Foi uma bofetada na alma brasileira. E na noite de Natal, quando, em geral, os espíritos estão mais desarmados e a sensibilidade costuma aflorar. Picharam a escultura de um dos nossos maiores poetas: Carlos Drummond de Andrade, localizada em Copacabana. Desrespeitosa e impiedosamente picharam a cabeça, o rosto, o tórax e as pernas do Poeta. Mas o desvario continuou com a pichação do Monumento a Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro – “uma pirâmide de pedra projetada por Lucio Costa, no Aterro do Flamengo” – bem como a estátua do jornalista Zózimo Barroso do Amaral, no Leblon, Rio.
Os jornais nos informam que os autores desses atos de vandalismo são um casal que “depois de beber cerveja num bar da Lapa decidiu fazer um programa inusitado: pichar três monumentos históricos”. Ele e ela tentaram justificar seus atos alegando depressão.
Clarice escreveu: “não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento”. Tem razão Clarice. Pela racionalidade, somos considerados animais superiores; e, no entanto, sentimo-nos incapazes de entender as verdadeiras razões de atos como esses. Ignorância? Exibicionismo? Problemas neurológicos? Alcolismo? Drogas? Sentimento de impunidade? “Viver ultrapassa todo entendimento”… O pichador chegou a afirmar que ficou surpreso com a repercussão do caso… Talvez ele não saiba que ao pichar Drummond ele estava pichando a poesia brasileira de primeiríssima qualidade; ao pichar especialmente Drummond e o monumento a Estácio de Sá, ele estava esbofeteando a cultura, a história e a alma brasileiras.