Antenor de Oliveira acreditava que o artista já nasce feito. No caso dele, parece que sim. Foi artista plástico, ator, diretor de teatro, dramaturgo, confeccionava presépios de Natal, fazia a decoração de clubes no carnaval, fazia máscaras e carros alegóricos para os blocos – um autêntico carnavalesco – e escrevia muito bem, deixando inédito um livro de poesias.
Quando foi vereador, Antenor fez a revisão do Regimento Interno da Câmara Municipal de Saquarema, que então se baseava num regimento comum a todas as Câmaras do antigo Estado do Rio. Assinado em 3 de julho de 1951, é um documento raro que revela o grande conhecimento jurídico de Antenor de Oliveira, um artista nato e um autodidata.
Filho de Frutuoso Alcanforado de Oliveira e Othyldes Ignácia Gomes de Oliveira, Antenor de Oliveira nasceu em 11 de novembro de 1918 e faleceu em 6 de junho de 1990. Em seus 71 anos de existência, Antenor fez de tudo um pouco. Foi vendedor de doces, quando criança, brincava vestido de palhaço nas ruas da cidade, no carnaval, quando também fazia máscaras de “papier marché”, com papel e cola de farinha; criou um teatro no salão de uma casa colonial no centro de Saquarema, pintou os murais da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazareth, foi carnavalesco do rancho Tenentes e depois do bloco Reco-Reco, vermelho e branco; foi ainda secretário do Saquarema Futebol Clube, fundador do Centro Espírita Apóstolos de São Francisco de Assis, hoje Casa Espírita de Saquarema Francisco de Assis, leiloeiro das grandes festas de Nazareth, secretário da Venerável Irmandade N. Sra. de Nazareth, decorador da Festa do Divino, orador na inauguração do busto de Macedo Soares, em 1963, na praça em frente ao antigo Convento das Irmãs, hoje Instituto Madre Maria das Neves, entre outras atividades.
Consagrado como pintor, embora também fosse escultor, ganhou inúmeros prêmios, entre eles a Moção Honrosa com o quadro “Obras do Padre Anchieta”, no 1º Salão Niteroiense de Pintura e Medalha de Ouro com “Igreja de Itaipu”, na gincana promovida pelo Centro Niteroiense de Turismo e Medalha de Ouro com “O solitário”, da Prefeitura de Valença. Participou desde 1945 do Salão Nacional de Belas Artes, onde concorreu com o quadro “Recanto de Saquarema”. Foi aluno do pintor e professor José Maria de Almeida, tendo também se tornado mais tarde professor de desenho do Ginásio Professor Alfredo Coutinho. Participou ainda de muitas Exposições Coletivas, inclusive na Associação Cristã de Moços, no Rio, em Rio Bonito e na promovida pela Prefeitura de Saquarema. Com mais de 800 quadros e várias esculturas, Antenor de Oliveira – que se assinava A. Oliveira – tem obras espalhadas por vários estados do Brasil, dois quadros na Alemanha e um nos Estados Unidos.
Inúmeros talentos
Presidente da Colônia de Pesca, criou a primeira escola primária voltada para os pescadores e fez o “Regulamento dos Ganchos e Estacadas”, situados na embocadura do canal que liga a lagoa ao oceano, mantido pelo então Departamento de Reservas Naturais da Secretaria de Agricultura, beneficiando famílias que vivem da pesca. E colaborou decisivamente com o extinto Departamento de Turismo de Saquarema, quando da disputa da “Copa das Cidades”, na TV Tupi, no programa de Mauro Montalvão, quando o município sagrou-se campeão, numa disputa acirrada contra outras cidades do Rio de Janeiro.
Pai de 6 filhos – Maria José, Aluísio, Luiz Fernando, João Eduardo, Hélio e Ana – todos artistas, Antenor foi amigo do padre Manoel, de juízes que vinham trabalhar na cidade e recebeu visitantes ilustres, como o ator Grande Otelo e o pintor Pancetti, que dormiram no sofá de sua casa. Foi também um visionário, quando montou a peça “Deus lhe pague”, de Joracy Camargo, moderníssima na ocasião, hoje um clássico. Fã de Procópio Ferreira, que imitava num programa de rádio que ele fazia em Rio Bonito, Antenor deixou um livro inédito de poesias chamado “Pinceladas Poéticas”, além de uma série de peças infantis e um boneco fantoche, o “Bringuela Cotó”, que a filha Maria José, herdeira de sua vocação teatral, mantém até hoje, confeccionado pelo irmão, também pintor e escultor, João Eduardo, para uma peça especialmente montada pela família no Teatro Municipal, para a comemoração dos 85 anos de Antenor de Oliveira.