José Pereira dos Santos, o Barão de Saquarema, nasceu em Rio Bonito, na Provincia do Rio de Janeiro, em data desconhecida e faleceu em Niteroi, em 1874. Fazendeiro abastado, era tenente-coronel da Guarda Nacional e comendador da Imperial Ordem da Rosa. Naquela época, os membros da Guarda Nacional eram recrutados entre os cidadãos “eleitores” e seus filhos, o que significava ter uma renda anual superior a 100 mil réis. Os membros da Guarda Nacional, constituída por representantes das elites políticas locais, não exerciam atividade militar, mas faziam parte da reserva.
Já a nobreza era formada pelos membros da família imperial e pelos detentores dos títulos nobiliárquicos, concedidos durante o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822) ou durante o Império do Brasil (1822-1889). Somente os nobres podiam exercer altos cargos no Brasil Império, serem oficiais do exército e da marinha. Com o advento do ciclo do café, os grandes fazendeiros passaram a obter títulos, na maioria de barão, tornando-se conhecidos como “barões do café”. O Barão de Saquarema, próspero fazendeiro, era muito influente na corte e foi determinante no processo de emancipação do município de Saquarema.
Em 8 de maio de 1841, a freguesia de Saquarema – título conquistado em 1755 – foi elevada à categoria de Vila, graças à intervenção dos fazendeiros “barões do café”, liderado pelo Barão de Saquarerma e pelo Barão de Itaboraí. Mas devido à fraca situação econômica do município e à briga política dos chamados “saquaremas”, do Partido Conservador, contra os “luzias”, do Partido Liberal, a sede do município foi transferida para Mataruna, atual Araruama, durante um curto período, a partir de 1859. Porém, a grita geral dos “barões do café” e o agito da população local fizeram com que Saquarema recuperasse sua autonomia em 1860, retornando à condição de Vila em 1861.
A Imperial Ordem da Rosa
Em 1869, Saquarema possuía 4 engenhos de açúcar, sendo 3 deles movidos a vapor, pertencentes ao Barão de Saquarema. A cultura do café que chegou ao Brasil em 1727, trazido da Guiana Francesa pelo sargento Palheta, se espalhou rapidamente pelo Pará, passando pelo Maranhão e Bahia, até chegar ao Rio de Janeiro. A riqueza gerada pelo café – e pelo açúcar – aguçava o contraste entre a opulência das fazendas e as tristes condições de vida nas senzalas cheias de escravos. As plantações de café cobriam vales e montanhas e não raro havia relatos de maus tratos contra os negros. Em Saquarema, também houve rebeliões de escravos, como na Fazenda Ipitangas. Porém, segundo o pesquisador saquaremense Darcy Bravo, autor do livro “Minha Terra, Saquarema”, o Barão de Saquarema foi um “humanista”, um pré-abolicionista, pois ao morrer legou a seus escravos todos os seus bens, as plantações, a criação, tudo!
O Barão de Saquarema atuou também na Guerra do Paraguai. No dia 2 de abril de 1867, o então tenente-coronel José Pereira dos Santos, Barão de Saquarema, constituiu junto com outros cidadãos – um fazendeiro, um lavrador, um padre e o presidente da Câmara Municipal, Dr. José Ferreira da Silva – uma comissão para promover o alistamento dos chamados “Voluntários da Pátria” e recolher donativos. Mais de 50 voluntários se apresentaram, nesta campanha em Saquarema, onde alguns cidadãos se destacaram pela ajuda financeira, entre eles o comerciante José Mariano de Oliveira, pai do poeta Alberto de Oliveira, e o médico Dr. Luiz Januário, hoje nome de uma das principais ruas da cidade. Nesta época, o Barão de Saquarema também exercia o cargo de 1º substituto do juiz municipal e delegado de polícia.
Principal benfeitor do município, para o qual doou o prédio da Câmara Municipal que até hoje existe e onde funciona atualmente a Casa de Cultura Walmir Ayala e a biblioteca José Bandeira, o Barão de Saquarema é um personagem histórico ímpar na vida da cidade e mereceria uma pesquisa profunda sobre sua vida e obra. Uma vida coroada pela Imperial Ordem da Rosa, uma medalha criada por D. Pedro I, inspirada nas rosas que ornavam um vestido da Imperatriz Dona Amélia, desenhada pelo famoso viajante francês Jean Baptista Debret e destinada a militares e civis, nacionais e estrangeiros, fiéis ao Império.
Os “saquaremas” e os “luzias”
Em 1842, uma revolta apoiada pelos membros do Partido Liberal teve apoio das Guardas Nacionais em várias vilas, mas perdeu a célebre batalha de Santa Luzia, em Minas Gerais, no confronto com o Exército, comandado pelo então Barão de Caxias, futuro Duque de Caxias, do Partido Consevador, fiel ao imperador D. Pedro II. Na origem, os apelidos “luzias” (liberais) e “saquaremas” (conservadores) tinham caráter pejorativo.
Os adeptos do Partido Conservador apelidaram os liberais de “santa-luzias” ou simplesmente “luzias”, para acentuar a derrota em Minas Gerais, e os “luzias” por sua vez passaram a chamar os conservadores de “saquaremas”, em alusão a um grupo de fazendeiros que reagiram aos desmandos de um padre e subdelegado de polícia de Saquarema, o Padre Céa (José de Cêa e Almeida), um liberal. O termo “saquarema”, que surgiu para achincalhar o grupo político que apoiava o Imperador, acabou sendo adotado pelos próprios conservadores que alcançaram fama nacional, chegando a lançar jornais em Pernambuco e São Paulo com o nome “O Saquarema”.
Muito interessante o resgate da história do município. A nossa população não conhece a própria história e até mapas da cidade são difíceis de serem obtidos. Bela iniciativa.