Enquanto a Copa não chega, faltam pouquinhos dias, está começando devagar, devagarinho, a temporada de aquecimento dos manifestantes e do governo para a maratona do Mundial do Brasil que vai durar um mês. O governo não esconde sua expectativa em relação ao retorno da onda de protestos que sacudiu o país em junho do ano passado. O que começou com o aumento nas tarifas de ônibus ganhou o Brasil numa dimensão muito mais abrangente. Manifestações já foram agendadas para as 12 cidades-sede em reuniões realizadas no dia 15 de maio, escolhido como o “Dia Internacional de Luta Contra a Copa”. Pelo cunho internacional dos protestos, foram programados atos em frente às embaixadas brasileiras no exterior. O primeiro foi marcado pelo apedrejamento da representação do Brasil em Berlim, repudiando o Mundial.
Passada a euforia pela conquista do direito de sediar a Copa de 2014, o que começamos a observar foi um clima geral de perplexidade diante da ganância desenfreada do FIFA e a postura subserviente de nossas autoridades; promessas de mundos e fundos, mas quase nada feito em prol de nossas cidades. Ao contrário, o que se viu foi uma total falta de planejamento e de transparência nos projetos realizados. Transformaram nossos estádios em reluzentes arenas polivalentes para receber os mais variados tipos de espetáculo. Só não disseram que esse modelo de estádio exigiria um aumento significativo no valor dos ingressos para a viabilização financeira das chamadas “Parcerias Público-Privadas”. Inventaram uma espécie de “Copa do Mundo S/A” que dá à FIFA o direito de faturar sobre tudo que disser respeito à Copa, inclusive o direito de proibir a comercialização de produtos de empresas concorrentes das patrocinadoras da Copa nas redondezas dos estádios, mais um fator a inibir a euforia do brasileiro com o futebol.
Comercialização
muito exagerada
tira empolgação
dos torcedores
Com os ingressos muito caros para os padrões do povo brasileiro, os estádios têm permanecido vazios, mesmo em jogos importantes dos campeonatos regionais. Se os estádios ficarem lotados na Copa não será pelo povo. Turistas, autoridades e cidadãos com melhor poder aquisitivo é que marcarão a festa dita “feita para o povo”. Os bilhões gastos para a realização de um mês de futebol amenizariam o sofrimento de muitos e melhorariam a vida de famílias inteiras. É este o sentimento que se percebe nas ruas, nas rodinhas de torcedores batendo papo nas esquinas. Diferentemente do que costumava acontecer em outras Copas, o que chama atenção agora e a apatia dos torcedores brasileiros diante deste evento em que eles foram colocados de fora. Até aquela tradicional ornamentação das ruas não passa, até o momento, de algumas esporádicas iniciativas numa ou noutra rua. Claro que haverá comemorações, mas nada comparável as de outras Copas, quando quase todas as ruas eram enfeitadas e o clima era de absoluta alegria. A estratégia política do pão e circo pode até funcionar ainda, mas a suspeita é de que ela está seriamente ameaçada.