Ele é natural de Saquarema, assim como seu pai e sua avó. Nascido em Rio de Areia, o engenheiro Gilmar Magalhães é filho de um pequeno sitiante, Menaldo Carlos de Magalhães, hoje nome de uma escola no Asfalto Velho, que trabalhou num posto de gasolina, o antigo Texaco, na rodovia, hoje Ipiranga, e depois num restaurante como balconista, até montar seu próprio negócio, vendendo tecidos, viajando o estado todo. Mas foi como motorista de caminhão, carregando pedra de São Pedro da Aldeia para Saquarema que ele se consolidou até entrar na política e ser eleito vice-prefeito junto com o prefeito Valquides de Souza Lima.
Gilmar Magalhães, o popular Gima, estudou no Colégio Oliveira Viana, em Bacaxá, no Alfredo Coutinho, em Saquarema, e no Colégio Araruama. Como queria fazer engenharia, foi estudar em Niterói, onde dividia apartamento com Joedson, filho do ex-prefeito Jurandir Melo, então prefeito de Saquarema. Assim como o colega Joedson, Gima passou para o curso de Engenharia da Veiga de Almeida, completado em 5 anos, com muita luta. Quando se formou, voltou para Saquarema.
“Meu pai tinha uma fábrica de laje e comecei a trabalhar com ele. A Padaria Bela Bel foi o meu primeiro projeto como engenheiro. Trabalhava como autônomo e depois com o prefeito Carlos Campos da Silveira, como secretário de obras, de 1989 a 92. Depois, perdemos a eleição e, da forma que eu entrei, saí, inclusive com o mesmo carro velho. Mas Paulo Melo já era deputado estadual. Havia uma vaga na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em Araruama e o deputado me convidou para assumir um cargo de confiança na SERLA, Superintendência de Rios e Lagoas, que era o órgão ambiental do estado na gestão de recursos hídricos. Lá eu fiquei no governo de Marcelo Alencar e no governo Garotinho. Fui o único gerente de meio ambiente do estado que permaneci no cargo. Foram 6 anos de SERLA e saí porque Peres ganhou a eleição e me convidou para ser secretário de Obras de Saquarema e eu voltei”, conta Gima em sua sala na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, nos anexo nos fundos da Prefeitura.
Formado no Curso de Engenharia Ambiental da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), um curso intensivo com 420 horas, Gima se qualificou também no curso de mestrado em meio ambiente. No governo Peres, ficou os 3 primeiros anos na secretaria de Obras, acumulando Meio Ambiente, até ser deslocado para a secretaria de Transportes e Serviços Públicos, onde ficou mais de 1 ano. Em 2004, foi para a Secretaria de Meio Ambiente, onde permanece até hoje.
Criada no governo do Dr. João, a secretaria de Meio Ambiente foi Diretoria de Meio Ambiente e não tinha estrutura nenhuma. Estrutura mesmo a secretaria do Meio Ambiente só conquistou com a autonomia municipal para licenciamento ambiental que só aconteceu depois da descentralização do licenciamento instituído pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, em 2008. Segundo Gima, com a descentralização, houve a obrigatoriedade das secretarias se capacitarem para poderem fazer o licenciamento, porque não é admissível licenciar uma atividade sem corpo técnico capaz.
Hoje, a secretaria tem 3 biólogos, um cedido ao município, o analista ambiental da antiga FEEMA Alexandre de Brito, 2 engenheiros e 2 guardas ambientais; mas não tem químico, o que limita o licenciamento no município. Outro problema da secretaria é a falta de recursos.
“Meio Ambiente, como costumo dizer, é uma das secretarias de segundo escalão. O meio ambiente não desperta interesse como outras secretarias. As pessoas são imediatistas; tem gente que diz que quer respirar o ar de hoje e não está preocupada com o que vai acontecer daqui a 500 anos. Quem trabalha com meio ambiente é visto como intransigente, radical, xiita. Mas as pessoas que vêm para Saquarema só vêm para cá pela qualidade de vida, pelo que a natureza oferece. Neste ponto eu sou um radical, minhoca da terra”, desabafa Gima.
O Rio Bacaxá
“O rio Bacaxá hoje é taxado como o maior poluidor da nossa lagoa, ao ponto de se estabelecer uma Estação de Tratamento de Esgoto na sua foz. Mas eu nadei e pesquei ali. O rio Bacaxá começa em Rio de Areia, próximo aonde hoje é o lixão. Quando ele chega na Parada 70, recebe uma contribuição de um outro rio que vem do Retiro, passa por baixo da ponte, no bairro São Geraldo, ao lado da escola Padre Manuel e vai para o Verde Vale. Na rodovia Amaral Peixoto, atrás do posto Psiu, tinha uma nascente onde é hoje um lava jato, no Posto Ipiranga. Mas hoje está tudo canalizado! Aquele riacho vinha até o bairro São Geraldo, onde era o HBM, atual posto Vértice. Por isso que alaga tudo ali, por conta da canalização do rio. A natureza tá aí; no que ela se excede, alaga”, explica o engenheiro.
“O rio Bacaxá passa pela Faetec, mas antes recebe outra contribuição, na Rua 9 Irmãos, na entrada da Barreira. Da Faetec recebe uma contribuição que vem do Centro de Bacaxá. Também tinha uma nascente que passa por baixo do mercado Bacaxá, cruza a Francisco Fonseca, por baixo da antiga Utilidades Bacaxá, passa por trás do Posto da Polícia Militar, passa embaixo da antiga Lojas Costa, passa na subida da rua Regociano de Oliveira, passa de novo próximo à casa de Dalton Borges, no Calçadão, cruza por onde a guarda municipal tá instalada hoje, por baixo do restaurante Mac Bel e recebe uma contribuição da Vila Pereira, onde passa por baixo da casa de Zequinha, em seguida embaixo do posto Mubravi, onde tem uma galeria que eu obriguei a construir quando fui secretário de Obras e continua, passando embaixo da Loja Maçônica, embaixo da loja de tintas, embaixo da marmoraria, atrás da Padaria Maroca’s, e vai para a Lagoa de Saquarema. Ontem à noite eu sonhei que estava no rio Bacaxá mergulhando; eu ia fugido de casa com meus irmãos e meus amigos. Levava uma muda de roupa. Mergulhava naquela ponte da Parada 70”, sonha acordado o secretário.
Sem verba para recuperar todo esse ecossistema, apesar do município receber ICMS Verde, o ICMS Ecológico, que hoje está na faixa de 1 milhão por ano, Gima se ressente. Mesmo com a criação da faixa de conservação marginal obrigatória em todos os rios, mesmo com a criação de uma nova Unidade de Conservação, um Refúgio de Vida Silvestre, que incorpora uma área de 9 mil e 900 hectares, desde a Serra do Mato Grosso, em Sampaio Corrêa, até a Serra Castelhana, em Bacaxá, incluindo as cordilheiras, planícies, lagoas e brejos – e que deve render um aporte de verba de 1.200 milhão de reais, com o imposto verde – com tudo isso Gima fica inquieto quando pensa no que poderia fazer se houvesse mais empenho. O decreto de criação da nova Unidade de Conservação, com uma área de cerca de 212 Maracanãs, foi assinado pela prefeita Franciane no ano passado, mas os limites ainda estão sendo readequados, para não haver conflito no uso da terra.
“A natureza é a coisa mais perfeita que existe. É sábia! O que acontece é que o ser humano sempre busca ocupar as áreas que não são próprias para ocupação, por serem mais fáceis de viver, por omissão do poder público, que são áreas de preservação permanente e as pessoas acham que não tem dono. Uma bacia hidrográfica é limitada por pontos altos, que são ladeadas de morros. Toda a água que cai na superfície da terra tem um escoamento natural, que não obrigatoriamente precisa ser um rio, e que tem características perenes, tem uma nascente, um fluxo de água e tem uma foz, que deságua em uma lagoa ou no mar. Então tudo o que cai em uma bacia, escoa. A calha funciona como um bolsão; armazena água, para no decorrer do fluxo escoar naturalmente, se infiltrando e depois voltando novamente. Porém, as pessoas ocupam esses territórios. Não estou criticando as pessoas porque tudo isto é resultado de um processo de crescimento demográfico. As pessoas não têm lugar para morar e ocupam os terrenos, mas quando tem enchente põem a culpa no governo. Não que o governante não tenha culpa, mas a área não deveria ser habitada. Ou então para ser habitada teria que fazer primeiro o dimensionamento da calha do rio, para evitar enchentes. Estes impactos se dão por falta de organização, por culpa dos dois lados, quem ocupa e quem deixa ocupar”, diz o Dr. Gima.