Se ia ter Copa ou não, era a questão. Apesar de muitos transtornos e decepções com promessas não cumpridas, a Copa no entanto está aí. Se o país não soube aproveitá-la na totalidade, atraindo milhões de visitantes, por exemplo, o que aquece significativamente vários setores da economia, paciência! Concordando com o secretário-geral da FIFA, Jerôme Valcke, há os que repetem que, para o Brasil, ganhar a Copa importa muito mais do que organizá-la. E citam que o Itaquerão, palco do jogo de abertura entre Brasil e Croácia, estaria inacabado com vários gatilhos, dentro do muitas vezes nefasto jeitinho brasileiro. Como não houve qualquer acidente, nem quebra-quebra na estação do metrô de Itaquera, começamos no lucro.
O legado de qualquer grande evento internacional como a Copa é a mudança permanente que fica para a população. Um exemplo disso foi a esperança de que as Olimpíadas de 2016 incentivassem a realização de uma limpeza padrão FIFA na Baía de Guanabara. Chegamos a imaginar que ocorreria aqui o que houve em Sidney, por ocasião das Olimpíadas lá. Nas visitas precursoras estamos passando vergonha diante dos velejadores. As Olimpíadas de 2016 eram o pretexto para realizarmos este sonho dourado, que já existia antes do país ser escolhido como sede dos Jogos Olímpicos, mas tudo indica que a Baía dificilmente será limpa até 2016.
Limpeza da Baía
de Guanabara
é um legado
muito esperado
Com o jogo entre Brasil e Croácia, teve início a Copa do Mundo de futebol no Brasil, sem que seus personagens centrais pudessem aparecer livremente no Itaquerão, aproveitando a ocasião para captar dividendos com o evento: a presidente Dilma, candidata à reeleição, e o presidente da FIFA, Joseph Blatter, também ambicionando mais uma recondução ao cargo. Aconselhados pela sonora vaia que receberam na abertura da Copa das Confederações, ano passado, Dilma e Blatter optaram pelo anonimato, preferindo cerimônias fechadas para seus pronunciamentos oficiais. Outro grande ausente na abertura da Copa foi o ex-presidente Lula, responsável pela construção do novo estádio e fanático torcedor de futebol, mas sem condições de se expor ao público sem correr o risco de vaia.
Conjuntura tão adversa fez com que até os ministros do governo Dilma apelassem para reduzir os danos causados pela onda de greves e manifestações às vésperas da Copa, pretendendo ganhar a Copa também fora do campo. Isto virou mantra das autoridades brasileiras, a começar pela própria presidente Dilma, que utilizou um instrumento de comunicação do Estado para defender seu governo das críticas, esbanjando, em horário nobre na TV, a quantidade de “maravilhas” que o povo brasileiro vai desfrutar como legado da Copa de 2014, sem possibilidade de reação da plateia. A vitória do Brasil na Copa dará muita alegria à população, mas dificilmente vai amenizar o cenário político. Uma derrota no futebol vai agitar ainda mais os ânimos que já estão bem aquecidos. E a vitória fora do campo torna-se cada vez mais improvável.