Luiz Carlos Prestes Filho
Vai uma pequena reflexão sobre o termo “Esquerda Caviar” cunhado pelo Senhor Rodrigo Constantino que levanta sua voz contra o Memorial Luiz Carlos Prestes em Porto Alegre. Obra doada pelo arquiteto Oscar Niemeyer a capital gaúcha, cidade natal do Cavaleiro da Esperança.
Me parece que a expressão “esquerda caviar” faz parte do vocabulário daqueles que diziam antigamente que “os comunistas comiam criancinhas”. Diziam que a esquerda gostava de “comer criancinhas”.
Agora, estes, na versão daqueles, deixaram esta extravagância canibalística e passaram a comer caviar. A nossa esquerda revolucionária não tem jeito mesmo, sempre vai de um extremo para o outro! Isso deve ter acontecido porque os comunistas foram derrotados, com o fim da União Soviética – primeira experiência socialista na face da terra. Como não tinham mais o estado socialista para promover as caças de criancinhas, nas creches e escolas, tiveram que fechar os açougues, onde estocavam os cortes nobres de criancinhas à disposição dos revolucionários alucinados de todo mundo. Assim, a esquerda foi “pega” comendo o caviar. Está é a base teórica dos nossos pensadores liberais que insistem na expressão “esquerda caviar”.
Morei na ex-União Soviética, como exilado político, entre os anos de 1970 / 1983, e confesso que nunca comi uma só criancinha. Nunca me serviram uma criancinha! Nem no café da manhã, nem no almoço, nem no jantar! Caviar, sim, serviram muitas vezes. Gostei. Acostumei. Mas é que na ex-União Soviética, hoje Federação Russa, caviar é como inhame no Brasil. Como morar no Brasil sem comer inhame? Como morar na Rússia sem comer caviar?
Sabe, acho que além do dito cujo dizer “esquerda caviar” podia emendar “esquerda do inhame”. Mas ser da esquerda do inhame na Rússia, onde não dá inhame, por conta do clima, é o mesmo que ser da “esquerda de caviar” no Brasil.
Minha proposta. Vamos combinar assim. Avisem para o articulista liberal o seguinte. Sou do inhame, quando estiver no Brasil, e do caviar, quando estiver na Rússia. Certo? Como a anistia ampla geral e irrestrita do general/presidente João Figueiredo, aprovada em 1979, beneficiou torturados e torturadores; beneficiou os que “comiam criancinhas” e aqueles que mataram em tortura centenas e centenas de patriotas (inclusive cortando sadicamente os dedos das vítimas, arrancando as arcadas dentárias para evitar identificação futura) penso que a minha proposta é justa e aceitável.
Já que “O Globo” pediu perdão, em 2013, depois de dar respaldo para tantos crimes dos fascistas entre 1964 / 1989, peço em público que me perdoem por ter experimentado caviar no exílio. Pior, me perdoem por ter gostado de ter comido o inhame russo.