Hoje acordei com saudades da minha mãe. Advogada, escritora, poeta, artista plástica, intelectual, foi ela quem descobriu Saquarema para a nossa família, tendo conseguido junto à Prefeitura Municipal um terreno durante o primeiro governo Jurandir Melo. Ela trouxe também o professor de história da arte Mário Barata e o jovem advogado José Francisco Basílio de Oliveira, que trabalhava com ela na antiga Coophab, Cooperativa Habitacional, que já existia no Rio, antes do BNH. Fiel escudeiro de minha mãe, o jovem Zé Francisco era irmão de duas irmãs que viviam no Convento Madre Maria das Neves. Zé Francisco, como eu o chamava, tinha um fusca e várias vezes esteve em Saquarema com minha mãe, para tocar as obras que estavam se iniciando naquela época, final dos anos 60.
Minha mãe e o professor Mário escolherem terrenos bem distantes do centro de Saquarema, perto do antigo Hotel Caxangá, hoje Centro do Vôlei, em Barra Nova. Minha mãe praticamente construiu a primeira casa na beira da praia, em Barra Nova, a mesma casa onde vim morar há mais de 20 anos e onde vivo até hoje, com o meu marido Edimilson Soares. O professor Mário e sua esposa Tziana Bonazola, por sua vez, construiu uma casinha que ficou quase intocável ao longo dos anos, mantendo sua feição de casa de veraneio, cercada de verde. Ao contrário, a casa da minha mãe cresceu para poder abrigar seus sonhos, seus quadros, sua coleção de arte indígena, suas esculturas e outros badulaques dois quais não consigo me desvencilhar nunca.
Dr. Basílio de Oliveira se estabeleceu primeiramente como advogado no Rio e depois como promotor público, tendo feito uma brilhante carreira no Estado do Rio de Janeiro, especialmente na Região dos Lagos. Com vários livros publicados, fixou residência em Saquarema e hoje vive em Bacaxá, numa casa confortável, tipo chácara, com jardins, pés de árvores frutíferas no quintal, piscina com cascata, varandas e o carinho da esposa, dos filhos, genros e netos. Sogro do atual procurador geral do município Dr. Alexandre Esteves, o Zé Francisco da minha juventude continua o mesmo que, sempre sorrindo, trazia minha mãe para Saquarema e tomava café no convento das irmãs, numa Saquarema que ainda não tinha lanchonete e muito menos restaurante. Ao Dr. Basílio, testemunha do meu tempo de estudante, faço minhas homenagens, como se estivesse diante da minha própria mãe, Dulce Pedra, e do meu pai, também advogado, Dr. Paulo Netto Tupy Caldas. Cercada de árvores nativas no meu escritório, a redação do jornal O Saquá, agradeço todos os dias por viver aqui, entre flores e pássaros, envolta no vento que sopra da lagoa ou do mar.