Por: Silênio Vignoli
Ao enaltecer Saquarema como “terra geradora de filhos notáveis por seus valores morais e intelectuais, em condições de poder ufanar-se como berço de homens ilustres”, o historiador Darcy Bravo destacou em seu livro “Minha Terra Saquarema” Alberto de Oliveira, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, eleito “Príncipe dos Poetas”, o renomado sociólogo Oliveira Viana, o jurisconsulto e deputado estadual Oscar de Macedo Soares e o coronel José Pereira, Barão de Saquarema. Além desses, o historiador incluiu também o professor e maestro Francisco Vignoli, de quem foi aluno no curso primário.
A vocação musical de Saquarema começou a se manifestar em 1867, precisamente no dia 16 de junho, quando surgiu no município a primeira banda de música com o nome de Sociedade de Dança Recreio Familiar, que promovia bailes sempre no primeiro sábado de cada mês. Entre 1898 e 1905, o município passou a contar com outras duas bandas: uma na sede do município, na Vila de Saquarema, a Lira Saquaremense, e outra no Rio da Areia, a Lira do Rio D’Areia, fundada e regida pelo maestro Francisco Vignoli, que era também professor público do Estado.
A fusão das duas bandas
Segundo apontamentos do maestro Francisco Vignoli, a Lira do Rio D’Areia fez sua estreia em 28 de maio de 1898, na ladainha de véspera da festa do Divino Espírito Santo. No dia seguinte, 29 de maio, Domingo de Pentecostes, a Lira do Rio D’Areia despertou a população com sua alvorada às 5 horas da manhã, tocando vibrantes dobrados. Às 10 horas, a banda acompanhou a procissão do Quadro do Divino, da casa do festeiro até a igreja matriz de Nossa Senhora de Nazareth, onde o maestro Francisco Vignoli assumiu a regência do Coro Paroquial, executando músicas sacras na missa solene. Terminada a missa, o cônego Brito, vigário da Paróquia, benzeu o belo estandarte e a farda dos componentes da banda.
Nos anos de 1906 e 1907, as duas bandas, a de Saquarema e a do Rio D’Areia, tiveram uma decaída em suas atividades, provocada principalmente pelo êxodo de muitos de seus integrantes para outras localidades, principalmente Rio e Niterói, em busca de emprego. Em 1907, atingido por uma exoneração em massa do cargo de Professor Público do Estado, pelo governo Nilo Peçanha, o maestro Francisco Vignoli passou a trabalhar nas Coletorias Estadual e Federal, que funcionavam anexas, em Saquarema.
Certa ocasião tocavam as duas bandas, quando alguns descontentes com a Lira União Saquaremense gritaram exaltados: “Viva a Banda do Rio D’Areia e morra a de Saquarema”. Mas o maestro Francisco Vignoli retrucou prontamente: “Viva uma e morra a outra não! Viva as duas”… Idealista e apaixonado pela arte musical, Francisco Vignoli decidiu reunir os remanescentes das duas bandas, resultando na fusão em uma só, sob a denominação de Lira União Saquaremense, sintetizada na sugestiva sigla: LUS.
LUS na Região dos Lagos
Em 1914, o maestro Francisco Vignoli – que hoje é nome da rua transversal à rua Barão de Saquarema, na orla da lagoa, e desemboca quase em frente ao Supermercado Batista – conseguiu angariar minguados recursos para custear a confecção de fardamento para a nova banda: a LUS. Em 1918, eleito presidente do Estado o Dr. Raul de Moraes Veiga, empreendeu uma excursão pelos municípios da Região dos Lagos, para inaugurar diversos melhoramentos, começando pela ponte de madeira na entrada de Saquarema. Foi então recepcionado pela Lira União de Saquarema que o acompanhou até Araruama, Iguaba Grande e São Pedro D’Aldeia.
Em 1923, o então presidente do Estado, major-engenheiro militar Feliciano Sodré veio inaugurar a estrada de rodagem ligando Bacaxá a Saquarema, sendo recepcionado pela banda LUS em todos os atos com a execução de dobrados marciais, além do Hino Nacional em sessão solene da Câmara. Além da banda de música, o maestro Francisco Vignoli também participava do Coro Paroquial, como tenor e regente, dispondo de vasto repertório sacro e excelentes cantoras como Mocinha, Basília e Joaquina.
A LUS alcançou seu apogeu a partir de 1914, quando se apresentou nas festividades comemorativas do Centenário da Independência, em 1922, mas logo em seguida experimentou uma gradativa redução no número de seus integrantes, o que acabou provocando o encerramento de suas atividades em 1924.