“Beleza é fundamental”, escreveu Vinicius. Sim, fundamental. Deixar escapar a beleza da nossa percepção, empobrece o dia, empobrece a vida. A questão é como harmonizar o atendimento às necessidades, cada vez maiores, do cotidiano avassalador, com a imperiosa necessidade de percebermos a beleza, esteja onde ela estiver? Será possível isto? Porque o corre-corre da vida, se ficar incontrolável, acabará por destruir algo essencial: a capacidade de contemplação, fazendo com que percamos a chance de vislumbrarmos a beleza, tantas vezes tão próxima de nós e que, pela pressa exacerbada dos nossos dias, não conseguimos enxergá-las…
E “o mundo da beleza é simples”, escreveu Nélida Piñon. A beleza pode estar na natureza, num sorriso, num olhar, num gesto, numa palavra, num comportamento solidário, num silêncio – e não é o silêncio o “espaço do espírito”, como caracterizou Saint-Exupéry? – O que é preciso, é na correnteza da vida, estarmos atentos e sempre com a sensibilidade aguçada para a percepção da beleza, de modo que ela não passe em vão e possa nos alimentar de alegria, pois não nos ensinou Keats, que a beleza “é uma alegria para sempre”?
Lembro-me que, certa vez, já faz tempo, dirigia meu carro velozmente para chegar à hora marcada para realizar uma vistoria, numa das lojas do Aeroporto Tom Jobim. De repente, avistei um barco pesqueiro com muitas gaivotas que acompanhavam seu rumo. Instintivamente, freei o carro e fiz questão de contemplar por uns cinco minutos, no acostamento, aquela cena que embelezou meu dia e alegrou meu coração. Afinal, cinco minutos de atraso estavam dentro da tolerância das regras de etiqueta social… Cinco abençoados minutos que sintonizaram corpo e alma, razão e emoção, e me fortaleceram o suficiente para enfrentar e vencer as dificuldades do dia!… Sim, amigos, razão terá sempre Vinicius: beleza é fundamental!
O Jornal de Saquarema