A Passarela do Samba Darcy Ribeiro, conhecida como o sambódromo, tradicional pista de desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, é o palco da maior festa popular do mundo: o desfile das escolas de samba no carnaval carioca. Para comemorar os 30 anos do sambódromo, foi lançado na livraria da Travessa, no Centro Cultural do Branco do Brasil, no centro do Rio, o livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo”, do pesquisador e documentarista Luiz Carlos Prestes Filho. Baseado no depoimento de 4 dirigentes da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), o livro resgata a memória de Anísio Abraão David, presidente de honra da Beija Flor de Nilópolis, Capitão Guimarães, da escola de samba Vila Isabel e do Conselho Superior da Liesa, Luizinho Drummond, presidente da Imperatriz Leopoldinense e Carlinhos Maracanã, presidente de honra da Portela, no alto de seus 87 anos.
Focado na construção do Sambódromo e na criação da Liesa, o livro tem prefácio do ex-diretor da Rede Globo, Boni, grande incentivador do carnaval, e uma apresentação do economista Carlos Lessa, adepto do tema “Economia do Carnaval”, tema enfocado por Luiz Carlos Prestes Filho que vem publicando, nos últimos anos, livros e ensaios sobre a economia da cultura.
“Foi ele que conceituou o papel dos bicheiros para a sustentação do carnaval brasileiro. Realizei o estudo Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval, de 2006 a 2009, com apoio do Lessa”, explica o filho de Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, como denominou o escritor Jorge Amado, nos anos 40.
A ligação de Prestes com o carnaval é antiga. Em 1946, o líder Luiz Carlos Prestes foi libertado, depois de 9 anos na prisão, condenado pelo governo Getúlio Vargas. No carnaval, foi homenageado com um samba do Paulo da Portela, um verdadeiro embaixador do samba na época. Após a anistia aos comunistas, 24 escolas realizaram um desfile em homenagem ao Cavaleiro da Esperança.
“Essa memória está cravada no meu coração”, diz Prestes Filho. Mais tarde, em 1998, a Grande Rio, desfilou com um enredo em homenagem aos 100 anos de Prestes. “Acompanhei os ensaios e os preparativos”, conta o Prestes Filho, que conseguiu com o então governador do Tocantins, Siqueira Campos – que já tinha feito um monumento em Palmas, em homenagem à célebre Coluna Prestes – recursos financeiros para a escola.
No livro, o autor reconhece o papel central dos bicheiros no carnaval. “Sem o apoio dos bicheiros do Rio de Janeiro o desfile do Grupo Especial das Escolas de Samba não seria hoje o maior evento cultural do mundo, pois não teria as condições materiais que o poder público não oferece”, analisa ele e considera uma violência a perseguição aos bicheiros, sendo a favor da liberação do jogo no Brasil.
“São 70 anos de prisões por conta de atividades ligadas ao jogo do bicho, que é uma referência cultural impregnada no imaginário dos brasileiros. O Instituto Candonga encaminhou um pedido para o tombamento do jogo do bicho como Patrimônio Imaterial Brasileiro. O Senado Federal também já deu um parecer positivo para a regulamentação do jogo do bicho, o que significa que o cenário hoje está mudando para romper com este preconceito e esta discriminação contra os bicheiros que permanece até hoje”.
Construída pelo governador Brizola, a partir de um projeto cultural e educacional de Darcy Ribeiro e projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, a Passarela do Samba foi criada para ser a pista dos desfiles oficiais do carnaval carioca, mas também ser uma escola no padrão dos CIEPs (Centro Integrados de Educação Pública), com horário integral, com educação formal e várias atividades culturais. No complexo do sambódromo havia também um Museu do Carnaval, inaugurado no governo do prefeito Saturnino Braga, hoje desativado. Mesmo assim, a Passarela do Samba Darcy Ribeiro continua sendo um ponto turístico dos mais visitados no Rio de Janeiro, durante o ano todo, e palco do maior espetáculo da terra.