Cidade História

Manoel Gomes, da Usina ao Lions

Margarida Catarino e Manoel Gomes, 65 anos de casamento com alegria, amor e simplicidade. (Fotos: Edimilson Soares)
Margarida Catarino e Manoel Gomes, 65 anos de casamento com alegria, amor e simplicidade. (Fotos: Edimilson Soares)

Encontrar o empresário Manoel Gomes e sua esposa Margarida Catarino em sua casa em Bacaxá é um honra muito grande. Ambos com mais de 90 anos, com problemas de saúde que sempre ocorrem nas pessoas que atingem essa idade, os dois vivem tranquilos na casa da Rua Francisco Fonseca, principal via de Bacaxá, onde recebem a visita constante de filhos e netos. São um casal feliz, amoroso, divertido. Talvez este seja o segredo desta longevidade. De origem rural, demonstram uma pura alegria de viver. Um exemplo de vida para todos que os conhecem, com suas histórias, conquistas e simplicidade.

Manoel Gomes saiu da Bahia quando era pouco mais que um adolescente, para tentar a vida na grande cidade. Morou em São Paulo e Rio de Janeiro, antes de vir para Saquarema, onde se empregou numa fazenda do complexo da Usina Santa Luíza, do senador Durval Cruz, em Sampaio Corrêa, no dia 16 de agosto de 1943, com menos de 20 anos de idade.

“Fui recebido pelo Tenente, apelido do administrador da fazenda, que me apresentou a usina onde comecei a trabalhar com apontador”, lembra Seu Manoel, com sua memória prodigiosa. A partir daí, o jovem Manoel passou então por todas as fazendas do senador Durval Cruz, desde a São Lourenço, hoje propriedade do cantor Ney Matogrosso, até tornar-se apontador no escritório da usina. Mais tarde, foi balanceiro, balconista e caixeiro de armazém, entre outras funções que exerceu nas fazendas da família Cruz, até chegar a gerente da Fazenda Nazareth, hoje a Quarto de Milha, sempre dando conta do recado “com honestidade e sobretudo amor à profissão”, confessa ele.

Fazendas de cana

Há uma controvérsia quanto ao número de fazendas que o Dr. Durval possuía; uns dizem que eram 17, mas Manoel afirma que foram 13, sendo 3 fora de Saquarema, situada nos municípios vizinhos de Maricá, Rio Bonito e Araruama. Em Maricá, a fazenda Bom Jardim, em Rio Bonito, a Marimbondo e, em Araruama, a Prodígio. As demais fazendas no município de Saquarema eram: São Lourenço, Mato Grosso, Sacada, Ubá, Boa Vista, Nazareth, Tinguí, Jundiá, Manitiba e Conceição.

“Só tinha plantação de cana e tinha os fornecedores de cana, que eu fiscalizava também, porque a usina emprestava dinheiro aos particulares; eles plantavam cana e cortavam a lenha porque não existia eletricidade e a usina era tocada à lenha; o motor era a diesel, enorme, uma coisa monstruosa, do tamanho desta casa”, conta Manoel abrindo os braços… “Era uma família muito poderosa economicamente, financeiramente ”, recorda Manoel destacando entre os bens da família Cruz uma refinaria no Rio de Janeiro, na Rua do Matoso, e uma estância no Estado de Sergipe.

Namoro no trem

Manoel Gomes com o diploma do Lions Clube
Manoel Gomes com o
diploma do Lions Clube

Na usina, Manoel trabalhou 25 anos. Foi trabalhando nas fazendas que conheceu e se casou, há 65 anos, com a bela Margarida, filha caçula do poderoso coronel Catarino.

“Eu conheci Margarida acidentalmente. Eu cheguei em Sampaio Corrêa em plena ditadura; mas na primeira eleição para presidente, eu estava vendo o pessoal votar, olhei na direção de onde vinha o trem e vi uma moça de cabelos cacheados, cabelos bonitos, ao lado de um homem. Não sei porque, estremeci todo por dentro. Falei comigo mesmo: uma moça tão bonita com um sujeito tão mal arrumado! Era o irmão dela, que levava ela para votar”, conta Manoel ainda emocionado com este primeiro encontro.

Um dia, o trem estava na Parada Nazareth e ele viu novamente a moça. Segundo um colega de trabalho, ela era professora e vinha aplicar provas para as crianças. Outro dia, 12 de junho, Manoel viu a moça de novo, no trem, provavelmente indo à festa de Santo Antônio, em Bacaxá. Até que um uma ladainha, na casa de Ioiô, Manoel encontrou a moça. Depois da ladainha tinha o baile. Manoel tomou coragem e tirou a moça para dançar. Usava bigodinho, perfume cheiroso e cabelo brilhante.

“Fiquei encantado. Nos domingos, pegava um cavalo emprestado, passava pela casa dela e ela estava na janela. Namoramos um ano; depois casamos. O casamento foi em 7 de abril de 1951, há 65 anos”, conta ele. Sentada em uma poltrona, na sala, Margarida confirma. Deste amor profundo, o casal gerou 2 filhos, Ney Robson e Cil Farney, e 3 netos: Renan, Rodrigo e Junior. E Margarida aponta a galeria de fotos, com os filhos, netos e agora também bisnetos.

“Meus irmãos e irmãs já não tenho mais; eu era a caçula de 12 filhos, 6 homens e 6 mulheres”, fala Margarida. “Meu pai era coronel de patente, João Catarino de Souza. Meu pai dizia que foi criado em Bacaxá; tinha muitos amigos, governador, presidente da República, era um homem muito querido. O meu irmão mais velho Belino Catarino de Souza foi prefeito; lá na prefeitura tem o retrato dele”, explica, antes de oferecer um cafezinho.

Quando Manoel saiu da usina, já era agricultor, no Morro dos Pregos, nas terras herdadas dos Catarino. Mais tarde viria a ser conhecido como o “Rei do Limão”, tornando Saquarema o maior produtor de limão do país. Mas aí já é outra história que fica para outro momento, pois é chegada a hora de irmos embora, para deixar o casal receber outra visita. Antes, porém, Manoel fala do Lions, o Clube que ajudou a fundar em 1971 e que hoje tem um espaço com o seu nome: Centro Social Comunitário Manoel Gomes de Sá, na Rua Pereira. E faz questão de mostrar o diploma que recebeu das mãos do presidente do Lions Clube, Ronaldo Figueiredo, em 18 de novembro de 2015.

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