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Sonia Gouveia, a primeira-dama da Usina

Sonia brindando com champanhe o seu casamento com Carlos Durval Cruz. (Foto: Arquivo pessoal)
Sonia brindando com champanhe o seu casamento com Carlos Durval Cruz. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela é uma bela senhora de olhos claros, com uma postura imponente. Durante muitos anos, foi a primeira dama da Usina Santa Luiza, um complexo industrial em Sampaio Corrêa. Casada com o filho do senador Durval Cruz, o herdeiro Carlos Durval Cruz, mais conhecido como Durvalzinho, Sonia Gouveia Cruz viveu um sonho de amor com o marido e seus 4 filhos, tendo como cenário o canavial da usina e as praias de Saquarema, até a separação advinda após o fechamento da usina, em 1973.

“Eu me apaixonei por Saquarema; fiquei encantada com a cidade. Casei com Durval e optei por morar aqui, pela beleza do lugar”, diz Sonia, neta de Delmiro Gouveia, pioneiro da indústria de algodão e exportador de pele de cabras em Alagoas, nas margens do Rio São Francisco. Poliglota, Sonia fala 5 línguas, além do português e inglês, a língua de seu pai Noé, criado na Inglaterra, depois do assassinato até hoje pouco esclarecido de Delmiro Gouveia. Sonia também fala alemão, foi criada com uma governanta alemã até os 10 anos; e fala espanhol e francês, porque foi educada no Colégio Sion, de origem francesa, da alta sociedade do Rio. Em Saquarema, Sonia deu aulas de inglês.

Em 1958, quando chegou a Saquarema, a cidade não tinha nada, “só pescadores”, lembra Sonia. “Eu vi construir a Ponte Rio Niterói. Eu vinha de carro com meus filhos, atravessava a Baía da Guanabara de balsa. Um dia eu perguntei ao ministro e ele disse: eu vou fazer a ponte! E eu disse: ótimo! Eu sempre vinha para cá, porque Durval trabalhava aqui, tinha os negócios aqui e eu gostava daqui. Fiz campanha contra a malária; eu mesma tive malária; vacinei muita gente! Agora temos que tomar cuidado com a dengue, a chikungunya e a zika”, avisa ela.

Em todo esse tempo, Sonia acompanhou o crescimento da cidade. “As ruas praticamente não existiam, as avenidas, nada de casas bonitas, a maioria era casinhas pequenas… Só a nossa grande matriz é que estava lá, de pé”, explica Sonia em sua casa em Itaúna, ao lado do Colégio SEI que funciona onde antes era a sua mansão, nos tempos áureos da Usina. “A vida era maravilhosa, calma. Eventualmente tinha umas serestas que Durval promovia. Vinham uns artistas, intelectuais que se mesclavam com os pescadores; eles ficavam na varanda da nossa casa e tocavam músicas locais”.

Socialite no Rio, devota de Nazareth

Decorada com luxo, para receber personalidades da alta sociedade, a mansão foi inaugurada em 1962, com um banquete espetacular. Segundo Sonia, a casa estava deslumbrante. “Tenho fotos até hoje!”, relembra Sônia. “A casa abrigou também o deputado Paulo Melo quando criança; ele foi criado aqui, nos meus jardins; vendia cocadas no meu portão. Paulo Melo é um fenômeno! Um homem que toma conta de Saquarema até hoje; um empreendedor, ele e a esposa Franciane. Minha irmã, Marisa, criou o irmão dele, o Jaiminho. O marido dela, o procurador Milton Seabra, levou o Jaiminho para o Rio e o educou”, conta Sonia.

Sônia em sua casa em Itaúna. (Foto: Edimilson Soares)
Sônia em sua casa em Itaúna. (Foto: Edimilson Soares)

Herdeira por lado da mãe, Alba Marina, de uma tradicional família de São Paulo, os Martin Fontes, Sonia viveu histórias fantásticas nos anos dourados da República brasileira, quando o Rio ainda era a capital do país. “Durval gostava muito de sair, de frequentar a sociedade. Era um casamento perfeito”, conta Sonia que passou a lua de mel em Montevideo, no Uruguai. Amigo do colunista social Ibrahim Sued, que também frequentava Saquarema, Durval começou um novo empreendimento quando a usina já enfrentava dificuldades.

“Eles combinaram de fazer a ‘cidade do boi’. “Ibrahim era muito amigo nosso; esteve aqui várias vezes e chegou a ser relações públicas da fazenda. O ator Grande Otelo também esteve aqui, em festas da escola de samba Imperatriz Leopoldinense e do Salgueiro, que duraram 2 dias na fazenda. Foram festas comemorativas das grandes safras”, explica a socialite, fundadora da obra social do Sol, entidade filantrópica muito conhecida no Rio, com sede no Jardim Botânico. “Trabalhei com a presidente Maria Tereza Camargo, museóloga. Ela é esposa do Mauro Camargo, ex-secretário de Justiça. Construímos aquela obra social que era uma choupana e virou um edifício de 4 andares”, fala a empreendedora Sonia.

“Quando fui festeira de São Pedro, fizemos um almoço maravilhoso na nossa mansão. Desfilamos pela cidade. É uma tradição linda! Eu também sou devotíssima de Nossa Senhora de Nazareth. Estas são as grandes raízes que tenho aqui”, confessa sem esconder a emoção. Mãe do Frederico, o filho mais velho, bombeiro aposentado, que também mora em Saquarema, Sonia fica triste quando lembra do saudoso filho Durvalzinho, falecido precocemente. Mas ainda tem Delmiro, salva-vidas em Saquarema, e o Marcelo, que trabalha com moda masculina no Rio, além de 3 netos, todos com saúde e bem-sucedidos. “Só posso agradecer por ter vindo para Saquarema, essa cidade com pessoas maravilhosas que me acolheram muito bem, além do ar puro e o sossego. É muita tranquilidade. Espero que continue assim”.

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