Ele era um cultor da beleza, mas não apenas isso; era também um criador e reconstrutor dela. O Senador Afonso Arinos chegou a dizer que ele era “um escultor de estátuas vivas”… Mas, aliadas à sua competência, a generosidade e a solidariedade fizeram a utilização do seu bisturi ficar famosa no mundo inteiro.
“Eu invejo você, eu também queria restaurar as almas através do corpo. Não é isso que você faz?” perguntou-lhe, certa vez, Clarice Lispector. E por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras, Lygia Fagundes Telles declarou em entrevista: “Ele cuida da beleza. E segundo Dostoiévski, só a beleza salvará o mundo.”
“Eu sempre fui muito encantado com a beleza; na arte, na natureza, nos livros. E a medicina me (deu) essa capacidade de apreciar o outro” – palavras dele próprio, o Dr. IVO PITANGUY, cirurgião famoso por esculpir belas mulheres (como a atriz italiana Sophia Loren; Farah Diba, a última imperatriz do Irã, e tantas outras), e recuperar as feições de tantos, inclusive do menino italiano Ivan Locci, de quatro anos, que, em 1981, por causa de uma explosão de uma garrafa de álcool, teve seu rosto destruído; e também de Niki Lauda, piloto da Fórmula 1, após grave acidente na Alemanha, em 1976.
O Dr. IVO PITANGUY teve atitude inesquecível ao levar equipe de voluntários (cirurgiões plásticos) para poder atender às vítimas de um incêndio que destruiu o “Gran Circo Norte-Americano”, em Niteró,i no dia 17/12/1961 e que fez mais de 500 mortos, sendo que cerca de 70% eram crianças. – “Eu pude ajudar porque já tinha criado um serviço de atendimento a queimados no pronto-socorro e, depois, tinha passado o tratamento de sequelas de queimaduras para a Santa Casa de Misericórdia”, disse ele, décadas depois do ocorrido. Para ele, “a cirurgia plástica tem como objetivo, acima de tudo, restituir ao corpo em sofrimento sua função de dignidade.” (In “Viver vale a pena”, sua autobiografia).
Aos 93 anos, um dia após carregar a “Tocha Olímpica” no Rio de Janeiro, a impactante notícia de sua morte repentina.
Eis o que ele escreveu no seu citado livro: “Conheço a morte. Durante toda a vida eu a vi agir. Ela não me apavora. Renunciar à alegria da vida será mais difícil. (…) Não vivi em vão. Fecharei os olhos lembrando uma frase que sempre me acompanhou, do livro “Thais”, de Anatole France: “Partir como uma azeitona madura, agradecendo à árvore que a trouxe à terra e a alimentou.”