Esvaziar gavetas de escritório desativado há muitos anos, é entrar no túnel do tempo e reviver lembranças. Dizer que o passado passou é de uma inocência de primeira idade, e meia verdade: porque passou, mas instantaneamente pode voltar à tona em fotos antigas, cartões de Natal, cartas recebidas, fitas gravadas, objetos antigos, recortes de jornal etc. Assim, o passado passou, sim, mas pode estar presente pela lembrança viva registrada na memória…
E foi assim que encontrei um velho recorte de jornal, de 2002. Nele, o título atraiu minha atenção e me fez reler o artigo, pois quando a matéria é boa não envelhece e sempre desperta curiosidade: “Compartilhamos o riso com os animais”. Foi o que afirmou a pesquisadora da UNICAMP, Silvia Helena Cardoso, especializada em psicobiologia, em entrevista a Cilene Guedes, no jornal “O Globo”, de 20/05/2002. Nela, a pesquisadora garante que “rir não é privilégio de seres humanos.” “Assim, ainda que o homem continue sendo o único animal capaz de entender uma piada, o riso não é um prazer exclusivamente humano. Ratos, cães, macacos, quase todos os mamíferos, a seu modo, riem”. É o que sugerem as pesquisas sobre o tema, objeto de estudo da citada pesquisadora. Interessante é que em pesquisa americana citada, de 1200 observações de riso em locais públicos, “só 10 a 20% eram decorrentes de situações de humor. As demais eram essencialmente sociais: encontros com pessoas, por exemplo. Isso indica que o riso e o sorriso acontecem para comunicação… Quando rimos indicamos que não há agressão, que estamos querendo nos aproximar”… Se a Ciência confirma que rir é um santo remédio? Responde a pesquisadora: “o riso promove uma diminuição da tensão muscular – é só dar uma gargalhada que a gente relaxa. O riso também afeta o sistema cardiovascular: aumenta a frequência cardíaca. A frequência e a intensidade da onda sonora do riso indicam um aumento da entrada de oxigênio no organismo… O riso promove ainda uma síntese de tipos de morfina endógena conhecidos por atenuar a dor e promover bem-estar, além de beneficiar o sistema imunológico”…
Assim, tudo leva a crer que rir, é sim, um santo remédio…
Ps. Junto ao recorte do jornal encontrado, havia o manuscrito de um poema que à época, fiz sobre o tema: Era o sorriso / privilégio humano. / Tradicionalmente, era. / Mas acabo de ouvir no rádio: / “compartilhamos o riso / com outros animais. / Quase todos os mamíferos, / a seu modo, sorriem.” / Só agora a Ciência revela / o que crianças, loucos e poetas / já estavam fartos de saber. // Poema “Tardia Descoberta”, de 28/05/2002, publicado em meu livro “Simplicidade” (ZMF Editora – Rio – 2007).