“Meu coração, não sei por quê / Bate feliz quando te vê / E os meus olhos ficam sorrindo / E pelas ruas vão te seguindo, / Mas mesmo assim foges de mim.”
2017 – Cem anos de um dos maiores clássicos da Música Popular Brasileira: “Carinhoso”, música de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho), composta em 1917, e letra de João de Barro ou Braguinha (Carlos Alberto Ferreira Braga) em 1936.
Interessante é que a música foi mantida inédita por mais de dez anos… Pixinguinha assim justificou o fato, em depoimento prestado no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 1968:
“Eu fiz o “Carinhoso” em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes. Choro tinha que ter três partes. Então eu fiz o “Carinhoso” e encostei. Tocar o “Carinhoso” naquele meio, eu não tocava… ninguém ia aceitar…”
Assim “Carinhoso” só foi gravado, apenas instrumentalmente, em 1928 (mais de dez anos depois de composta) pela “Orquestra Típica Pixinguinha – Donga”. E teve ainda mais duas gravações instrumentais, mas continuou desconhecida do grande público até meados de 1930.
Até que em 1936, Heloísa Helena, atriz e cantora que, convidada a participar do espetáculo “Parada das Maravilhas”, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, promovido pela então primeira dama Darcy Vargas, pediu a Braguinha “uma canção nova que marcasse sua presença no palco.” Foi aí que ele aceitou a sugestão da amiga para que letrasse o choro “Carinhoso”. E relata Braguinha: “Procurei imediatamente o Pixinguinha que me mostrou a melodia num “dancing” (O Eldorado) onde estava atuando. No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa Helena, que muito satisfeita me presenteou com uma gravata italiana. Assim, às pressas, nasceu a letra de “Carinhoso”, que a partir do momento que podia ser cantada, tinha tudo para se tornar um dos maiores clássicos da M.P.B”.
“Carinhoso” tem mais de duzentas gravações desde a primeira, de 28/05/1937, de Orlando Silva, o “cantor das multidões”, com imenso sucesso. Mais recentemente, destacaria duas belíssimas interpretações: a de Elis Regina e a de Marisa Monte, com Paulinho da Viola.
Por último, vale a pena contar um fato que testemunhei na década de 60: convidada por Elis Regina, fui assistir à sua memorável apresentação na “Boite Zum Zum”, com Baden Powell, em Copacabana. Quando ela acabou de interpretar “Carinhoso”, Vinicius de Moraes, que estava presente, levantou-se e passou por mim com o rosto banhado em lágrimas, por aqueles momentos inesquecíveis e de imorredoura beleza…
Vida eterna para “Carinhoso”!