O atelier do artista plástico Fernando Pacheco em Saquarema é uma pequena casa na beira da praia em Barra Nova, com janelas amarelas, detalhes em vermelho. Pelo visual, já dá para ver a pessoa criativa que se pode avistar no verão sentada na varanda, curtindo o mar e o magní- fico pôr do sol. Dentro da casa, existe um mundo: quadros nas paredes, uma cristaleira antiga com livros, garrafas e pedras pintadas como miniaturas. Uma grande mesa oferece aos amigos café e biscoito. Mas pode ser também champanhe. A dona da casa, esposa e produtora de Fernando Pacheco, Nina, é quem dá o tom de liberdade, neste cenário onde tudo gira em torno da arte.
Mineiro nascido na cidade barroca de São João Del Rei, Pacheco veio para o Rio de Janeiro na juventude, tendo sido influenciado por grandes artistas e pensadores brasileiros. Convivendo com intelectuais como o jornalista, escritor e atual membro da Academia Brasileira de Letras Carlos Heitor Cony, aprendeu o valor da arte, antes de optar pela carreira de artista plástico, que um dia explodiu em cores, dentro do seu quarto, em Belo Horizonte (MG). Filho de militar, Pacheco frequentava Saquarema já na adolescência, quando seu pai construiu uma casa de veraneio no Boqueirão. Aqui conheceu o artista plástico russo Wladimir Obrescoft que o introduziu no universo das cores feitas com óleo de linhaça, num processo artesanal.
“Além de mestre em pintura, ele fazia suas próprias telas e molduras. E fabricava violinos”, lembra Pacheco, destacando também a qualidade da pintura de Vera Obrescoft, esposa de Wladimir. “Com ele aprendi a ‘cozinha’ da pintura”, confessa.
Pacheco é hoje um dos artistas mais consagrados do país, tendo no aeroporto de Confins um painel de 19 metros que recebe com asas abertas os viajantes. Tendo feito exposições nos museus mais importantes do Brasil, é reconhecido também no exterior. Em recente exposição, o artista apresentou a influência que teve a partir de sua passagem por países como Nova Zelândia, Taiwan, China e Japão. Premiado em vários salões no Brasil, expôs nos Estados Unidos, Alemanha, Argentina e Chile. Em Saquarema, fez uma generosa exposi- ção em 2002, na Salarte, espaço anexo do Teatro Mário Lago, em Saquarema. No ano seguinte, a Fundação Reina Sofia, da Espanha, adquiriu 3 obras suas.
Da Pampulha para Saquarema
Em 2009, uma mega exposição sua, com 60 obras, inaugurada na Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, também vista no Museu Casa dos Contos em Ouro Preto (MG), atraindo um público de 30 mil pessoas. Vários livros foram escritos sobre Fernando Pacheco e sua obra envolvente. Em 2012, o próprio Fernando lançou o Livro “O Papel do Artista”, junto com uma exposição de pintura, desenho e gravura, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. E em setembro de 2014, Fernando funda o Centro de Arte Fernando Pacheco (CAFP), no mesmo local onde já funcionava o seu atelier há 32 anos, na Pampulha, um lugar emblemático em Belo Horizonte, onde se encontram grandes obras do genial arquiteto Oscar Niemeyer. Integrando o circuito cultural da Pampulha, hoje considerado “Patrimônio Cultural da Humanidade”, o CAFP contêm o atelier do artista, uma galeria, um memorial, uma alameda e uma praça.
Neste verão, uma equipe de cinema iniciou um documentário sobre Fernando Pacheco. O diretor do filme, Fernado Batista, esteve em Saquarema para fazer algumas tomadas. Na praia deserta, Pacheco pintou uma barraca de praia branca como areia… O documentário incluiu um depoimento da jornalista Dulce Tupy sobre Fernando Pacheco, que conheceu no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e reencontrou em Saquarema, na casa do crítico de arte Mário Barata e da artista plástica Tziana Bonazolla, seus vizinhos. Recentemente, Fernando Pacheco terminou um painel sobre a vitória da seleção brasileira masculina de vôlei nos Jogos Olímpicos. Será um belo presente de Pacheco para a cidade, que abriga o Centro de Desenvolvimento do Vôlei, onde os campeões olímpicos brasileiros treinam, quando estão em Saquarema.