Aquela imagem pitoresca dos barcos coloridos na margem da lagoa de Saquarema, na descida da ponte Darcy Bravo, na entrada da cidade, não existe mais. Os pescadores tiveram um prazo pequeno para retirar todas as embarcações e dar espa- ço a uma obra que até agora ninguém sabe como será. A ordem veio de um aviso da Secretaria Municipal de Abastecimento e Pesca dando um prazo até o dia 5 de abril, para que o local fosse desocupado “Por motivo de reurbanização da orla”.
A área em questão é o mais antigo porto natural da Lagoa de Saquarema. “Um porto de mais de 100 anos”, disse Dirceu Caetano, corretor de imó- veis e um dos mais antigos moradores do centro da cidade, quando ainda era chamada de Vila. Dirceu morava numa casa na esquina que hoje abriga a Farmácia Alexandre, onde sua mãe colocava canjica em potinhos na janela, para vender aos pescadores que chegavam famintos depois da pesca. Filho do eletricista que cuidava do único gerador da cidade, que ligava a luz elétrica às 8 da noite e apagava às 10, Dirceu fica triste de ver aquela área histórica desocupada às pressas, sem a mínima consideração, sem diálogo com a comunidade pesqueira, sem a apresentação de nenhum projeto! “
Não sei o que vão fazer aqui, se um cais ou uma marina”, fala Dirceu. Em sua casa, numa rua mais adiante, seu pequeno barco de alumínio vai ter que aguardar uma outra oportunidade para se lançar na lagoa, sabendo que não vai poder permanecer na margem, como tantos pescadores e moradores locais também. É mais uma intervenção abrupta na vida da cidade, praticada pela nova administração pública. Saquarema agora tem dona.