Recentemente assistimos a casos de intolerância religiosa, através da mídia, televisão, rádios, revistas, jornais, redes sociais e celulares, via internet, enfim, canais que hoje estão disponíveis para todos os cidadãos. Assim, vimos perplexos uma mulher, uma mãe de santo no seu terreiro obrigada a destruir todos os objetos sagrados, sob a mira e a voz tenebrosa de um homem que a ameaçava constantemente. Este foi não só um ato de intolerância religiosa como também de tortura física e psicológica. É inaceitável numa sociedade de pessoas de bem, numa sociedade saudável, democrática. É um verdadeiro absurdo.
Como pode alguém ser ameaçado pelo simples fato de ter uma religião, seja ela qual for? Todas as pessoas têm o direito de escolher uma religião, de acordo com seus princípios morais. Num país como o Brasil, que desde sua mais remota origem, tem tantas matrizes diferentes, tendo sido formado por índios, brancos e negros, como pode ainda existir intolerância religiosa e racismo? Na Europa, a Segunda Guerra Mundial, com a ascensão do fascismo e do nazismo, a partir da Itália e Alemanha, a intolerância religiosa se voltou contra os judeus e os ciganos. Em várias partes do mundo até hoje a intolerância religiosa separa povos e países. É preciso combater essa forma de violência que vem se espalhando pelo planeta.
A poucos dias, em Uberaba, Minas Gerais, mais um ato de violência e intolerância religiosa se voltou contra o túmulo do líder espírita Chico Xavier, que já havia sido agredido anteriormente. Por que? As pessoas não podem ser espíritas, kardecistas, umbandistas, candomblecistas, mulçumanas, evangélicas, católicas, budistas? Ou todas têm os mesmos direitos e devem ser respeitadas em suas crenças, suas práticas religiosas e convicções? Mesmo aqueles que não acreditam em nada, os agnósticos e ateus, têm que ser respeitados pelos que profetizam qualquer religião. Todos são iguais; somos iguais porque somos humanos.
Uma luz no fim do túnel
No Rio, houve uma grande manifestação contra a intolerância religiosa na Praia de Copacabana. Foi uma maneira de dizer não à intolerância religiosa. Um encontro também no Rio de Janeiro, promovido pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, contou com a presença do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Rio de Janeiro, da Comissão de Direitos Humanos da OAB, da ONG Educafro, entre outras entidades da sociedade civil. Na ocasião, foi colocada a necessidade de medidas de amparo imediato às vítimas de intolerância religiosa.
Realizada na Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (Sedhmi), o grupo propôs a criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), para enfrentar esta onda crescente de intolerância religiosa, dando condições para que estes casos sejam registrados e investigados adequadamente. Presentes: o Centro de Apoio às Promotorias de Cidadania e representantes da Secretaria de Estado de Segurança Pública, entre outras instituições. É um esforço notável para o combate a todas as formas de intolerância religiosa. Outro caminho para aprofundar ainda mais a discussão é a realização da IV Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, no Rio, preparatória da Conferência Estadual e da Nacional. É hora de nos unirmos nesta luta contra a intolerância religiosa.