Nos gabinetes advocatícios, políticos e judiciais é quase unânime o entendimento indicando que o ex-presidente Lula ficará pouco tempo na prisão. É questão de dias ou semanas a sua liberdade, segundo a opinião predominante nos gabinetes frequentados por especialistas no assunto. Paralelamente, alastra-se entre os ministros do Supremo Tribunal Federal um clima de pressão para votar a ADC (Ação Direta de Constitucionalidade) n° 43 que pede acolhimento ao que diz a Carta Magna: prisão de condenado somente quando esgotados os recursos até a última instância com o “transitado e julgado”.
Em resposta a grupo de whatsapp, do Patriota, o presidente deste partido, Adilson Barroso, confirmou que apresentou a ADC n° 43 há anos, quando ainda era filiado ao PEN (Partido Ecológico Nacional). Segundo Barroso, a culpa é de um advogado do PEN, que agora usa a ADC para tentar soltar Lula. Barroso está em Brasília procurando contornar a situação, garantindo que é a favor da prisão em 1ª instância. Não há como retirar a ADC da pauta do STF, mas o advogado do PEN pode ser substituído pelo Patriota, onde Barroso é presidente, alegando que o partido mudou de posição e quer enterrar a ação.
A prisão de Lula é o momento mais dramático da história do PT. Nem o impeachment da Dilma Rousseff representou um impacto tão forte na legenda que governou o país por quase 14 anos e venceu as últimas 4 eleições presidenciais. Embora apeado do poder, o PT cultivava esperança de voltar. Agora, o futuro da legenda é uma incógnita. O PT sempre esteve atrelado ao carisma e à liderança do ex-presidente. Após chegar ao poder, Lula disse que “não tinha o direito de errar”. Em seus 2 mandatos, conseguiu redução nos índices de pobreza e um discreto crescimento na economia, alcançando uma aprovação recorde. Mas se esqueceu das promessas de campanha, ao incorrer naquelas velhas práticas e comprometedoras alianças políticas.
FICHA SUJA
Condenado em 2ª instância, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, depois de sua condenação em 1ª instância, em Curitiba, no Paraná, Lula tornou-se inelegível por força da Lei da Ficha Limpa, que ele mesmo sancionou. Apesar de todo o desgaste, ele ainda liderava as pesquisas de opinião, como virtual candidato à presidência da República. Ostentava cerca de um terço das intenções de voto. Numa disputa entre muitos candidatos, a atuação de Lula como cabo eleitoral despontava como suficiente para, ao menos, empurrar um aliado até o segundo turno. Neste cenário, a outra vaga seria disputada entre um candidato de centro-direita e o deputado de direita Jair Bolsonaro.
Depois de sucessivas derrotas na Justiça, Lula iniciou outra luta para tentar salvar o mito, resgatando sua aura de retirante que venceu a miséria, enfrentou a ditadura militar e tornou-se o primeiro operário a governar o país. Antes de se entregar à Polícia Federal, o ex-presidente Lula marcou o final de sua performance política de maneira patética, agressiva, culpando os juízes, os procuradores e a imprensa por sua condenação, reassumindo uma militância radical que o fizera perder diversas eleições presidenciais até reconhecer a necessidade de ampliar seu eleitorado com a inclusão da classe média, vestindo então o figurino do “Lulinha, paz e amor”.
Longe de envergonhar um país, como desabafaram muitos brasileiros, em carreatas pelo país, após a prisão de Lula, a condenação de um ex-presidente por corrupção demonstra a força das instituições brasileiras e nos leva a uma “frase-feita” do próprio ex-presidente, sempre repetida por ele ao vangloriar-se pelas obras inauguradas que, agora atualizada, ficaria assim: “Nunca antes na história deste país, um ex-presidente foi condenado e preso por corrupção”!