Manhãzinha de um dia qualquer, estava eu a caminhar pela bela praia pernambucana de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Seguia distraída, leve, feliz, em meio à lindeza daquele lugar… De repente, passa por mim, voejando, bela borboleta amarela… Lembro de Clarice: “Borboleta é pétala que voa”… Mas hein?! Borboleta na praia? E praia é lugar de borboleta? Em toda a minha vida nunca havia visto aquilo!… Em seguida, outra surpresa: seu voo voltava-se para o mar! Como? Em direção ao mar?… Mas onde ela vai pousar? Perguntei-me, atônita. E o mistério continuava: veio outra, mais outra e várias outras, com o mesmo propósito: irem em direção ao mar…
Um tanto quanto aflita, fui conversar com o barraqueiro: – O Sr. pode me informar se é comum, aqui, haver borboletas na praia? E ele: – “É… os jardins dos edifícios e hotéis dão para a praia. Dos jardins, elas vêm para a praia e voam para morrer no mar… Veja essas duas aqui pertinho, com o bater de asas ainda vigoroso… Mas olhe aquelas mais adiante, acima do mar, já com pouca energia, logo elas morrerão”… Aí assaltou-me outra dúvida: será que elas se suicidam ou, atraídas pelo mar, desconhecendo que não haverá pouso para seus voos, são surpreendidas pela morte?!… Mistério… para mim, até agora, algo incompreensível que não encontrei explicação… Mas a vida é cheia de mistérios e recorro à literatura para me acalmar e me encantar. E logo encontro Manoel de Barros: “Eu penso renovar o homem usando borboletas…”
Já no Rio, da rede da varanda do meu apartamento, em altura acima das copas das árvores, após o café da manhã, sempre busco porções de encanto e energia, nas borboletas, que, levíssimas e alegrinhas, borboleteiam pelas flores das árvores e dos jardins…
Sorrio… agora lembro de Adélia Prado: “ai, papai, me deixa namorar, / tem duas borboletas voando agarradinhas!…risos… E ainda Adélia: “Ó Beleza, adoro-Vos!…” ; … “Ó beleza, sois a minha alegria!”..