A greve dos caminhoneiros conseguiu o que parecia impossível: enfraquecer ainda mais o governo de Michel Temer. O Planalto ficou de joelhos, entregou tudo o que os grevistas queriam e não conseguiu mandá-los de volta ao trabalho, quando já estavam no décimo dia da greve.
Aliás, os caminhoneiros foram capazes de emparedar não só o Executivo, mas também o Legislativo, ao ameaçar paralisar setores vitais – abastecimento em geral e transportes, inclusive aéreo – expondo na vitrine desta republiqueta as mazelas brasileiras, destacando-se a da enorme e histórica dependência do transporte rodoviário em detrimento de outros modais, como o ferroviário e marítimo, transformando o país em refém de uma categoria. Esta é uma distorção que vem da década de 50, mas nunca enfrentada como deveria pelos sucessivos governos que antecederam o atual.
TRIBUTAÇÃO ESCORCHANTE
Existe ainda, uma outra questão, de natureza econômica, onde identificamos uma característica nacional desde a redemocratização, que é a elevada carga tributária com muitos impostos para sustentar o custo crescente do poder público (União, Estados e Municípios) impulsionado por enormes despesas engessadas e indexadas. No caso dos combustíveis, a União e os Estados são sócios famigerados num gigantesco cofre de impostos.
Há o PIS/Cofins federal, zerado pelo Congresso na atual emergência sobre o diesel, e o pesadíssimo ICMS cobrado pelos Estados, cujas alíquotas giram em torno dos 30%. No caso da gasolina, somando o ICMS com o imposto federal chega-se a uma incrível carga tributária em torno dos 45%. Pode? Isto é normal?
O TESOURO SOMOS NÓS
Esse movimento foi maior do que a paralisação de 1999, no governo Fernando Henrique. A greve dos caminhoneiros conseguiu só chegar ao ponto em que chegou graças à conivência dos empresários da indústria dos transportes. Tanto é verdade que um dos pedidos feitos foi o de que não houvesse reoneração da contribuição patronal do setor. Todos os outros serão reonerados.
O movimento que uniu caminhoneiros e empresas transportadoras precisou de muito pouco tempo para nocautear o país. No terceiro dia da greve o país já enfrentava o desabastecimento.
Assim, o ano está perdido; sucumbiu pela eficiente incompetência do governo federal e seus braços petrolíferos. Mas tudo bem, comemora o presidente Temer, temos o Tesouro para pagar a conta!
Só que o Tesouro somos nós! Foi a inglesa Margareth Thatcher que esbravejou, certa vez, afirmando que “esse negócio de dinheiro público não existe. O que existe é a grana chupada do bolso dos contribuintes”.
O descarte dos produtos alimentícios e a paralisação das fábricas provocarão grande impacto na economia do país. Da agricultura à aviação, todos os segmentos contabilizam grandes prejuízos. A normalização não será rápida. No caso dos suínos, por exemplo, serão seis meses.