A prova do ENEM realizou-se no dia 4 de novembro e traz a todos nós, educadores, uma necessária reflexão. Fomos ouvir dois pontos de vista de alunos que participaram da prova e que trago aqui como testemunho de como uma redação pode levar a reflexões profundas. O primeiro depoimento é de Isadora Coelho, 17 anos, e o segundo de Lucas Alexandrio, 20 anos.
“A primeira etapa da prova do ENEM ecoou como um grito da educação crítica brasileira. Ao abrir o caderno de ‘Linguagens, Códigos e suas Tecnologias’, deparei-me com algo que me felicitou ao extremo: Rosa Parks, Martin Luther King, Conceição Evaristo, com reflexões sobre a importância da democracia, machismo e feminicídio na sociedade, assim como questões que exploram a diversidade sexual e linguística do povo. É inegável: a prova foi o ecoar de resistência da educação que pauta o desenvolvimento do pensamento crítico do cidadão. Tendo em vista o atual cenário brasileiro, onde professores têm sido acusados de ‘doutrinação’, sofrendo retaliações através de aulas gravadas por alunos, além do próprio projeto ‘Escola Sem Partido’ – que pauta a censura aos professores e o fim de uma escola que cria seres pensantes – talvez, por isso, a prova de linguagens e ciências humanas tenha sido tão significativa. Em um contexto de tanto silenciamento e violência (intensificados nesse período eleitoral de 2018), o ENEM veio com a mensagem que acalentou o coração de muitos: a educação resiste!” (Isadora Coelho)
“O tema deste ano na redação do ENEM – Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet – fez com que parássemos para pensar nas nossas relações com políticas de privacidade, cookies, hackers e sistemas intrusivos de aplicativos que já não notamos e que são poderosos em relação à venda das nossas informações, dados pessoais e virtuais de perfis. Além disto, a prova parecia bem mais descontraída este ano com algumas questões de cunho social. Mas teve mais ‘pegadinhas’, como uma mistura de temas sem informar quando estaríamos fazendo questões de História, Literatura ou Ciências – o que antes era separado, informado aos candidatos qual a matéria, o que proporcionava automaticamente uma avaliação cautelosa do conteúdo. Isso embolou muita gente na hora de pensar com calma.” (Lucas Alexandrio).
Participaram desta Roda de Conversa:
Isadora Coelho, aluna do segundo ano do Ensino Médio do Colégio Washington Luís, em Saquarema, e o jovem Lucas Alexandrio, aluno do primeiro ano de Comunicação na Universidade Veiga de Almeira, Campus Cabo Frio.