Há 30 anos, foi assassinado o líder seringueiro Chico Mendes. Nascido em Xapuri, no Acre, onde também morreu, Chico começou a trabalhar ainda criança com o pai seringueiro. Aos 19 anos, aprendeu a ler. Em 1975, tornou-se secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, participando ativamente das lutas dos seringueiros contra o desmatamento na Amazônia. A tática utilizada então pelos manifestantes era o empate, manifestação pacífica, em que os seringueiros protegem as árvores com os próprios corpos.
Em 1977, Chico Mendes participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, sendo eleito posteriormente vereador pelo MDB. Começam então as primeiras ameaças de morte. Em 1979, promove um foro de discussões entre lideranças sindicais, populares e religiosos na Câmara Municipal de Xapuri. Acusado de subversão, é preso, torturado e enquadrado como subversido na Lei de Segurança Nacional. Em 1980, Chico ajuda a fundar o PT. Em 1981, assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte.
MARCADO PARA MORRER
Em 1985, Chico Mendes liderou o 1º Encontro Nacional de Seringueiros, quando foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), sob sua liderança, que adquiriu repercussão nacional e internacional. Do encontro, surgiu a “União dos Povos da Floresta”, que uniu os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. As reservas preservariam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um mecanismo de promover a reforma agrária, o que levou o governo a criar reservas florestais mais tarde, para a colheita não-predatória de matérias-primas como o látex e a castanha do pará.
Em 1986,Chico Mendes concorre ao cargo de deputado estadual pelo PT, em dobradinha com a então candidata a deputada federal Marina Silva, mas não conseguiu se eleger. No ano seguinte, recebe em Xapuri a visita de membros da Organização das Nações Unidas (ONU), quando denunciou projetos financiados por bancos estrangeiros que estavam devastando a floresta e expulsando os seringueiros. Meses depois, levou pessoalmente estas denúncias ao Senado dos Estados Unidos e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), provocando finalmente a suspensão dos financiamentos. No Brasil, foi acusado por fazendeiros e políticos locais de “prejudicar o progresso”…
PRÊMIOS E TIROS
Em 1987, recebe o prêmio Global 500, da ONU, e a Medalha do Meio Ambiente, da organização Better World Society. Ameaçado pelos membros da então recém-criada União Democrática Ruralista (UDR), percorreu o Brasil em seminários, palestras e congressos, denunciando a devastação da floresta e as ameaças que sofria. No 3º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), voltou a denunciar sua situação. E, no Rio de Janeiro, em reunião com ambientalistas no Paço Imperial, semanas antes do seu assassinato, mais uma vez reiterou as ameças.
Em 22 de dezembro de 1988, Chico finalmente foi abatido na porta dos fundos de sua casa em Xapuri, vítima de tiros de escopeta de fazendeiros que só foram punidos em 1990, depois de forte pressão dentro e fora do Brasil. Na época, Chico era casado com Ilzamar Mendes, com quem tinha dois filhos, Sandino e Elenira, de 2 e 4 anos de idade, e tinha uma filha do primeiro casamento, Ângela, de 19 anos. Ilzamar e Elenira criaram o Instituto Chico Mendes, para preservar a memória de Chico Mendes e desenvolver projetos sócio-ambientais. Na área em que ele morava, em Xapuri, foi criada a Reserva Extrativista Chico Mendes; hoje outras 20 reservas ocupam mais de 32.000 km² na Amazônia.