Não é de hoje que o lixão de Saquarema vem pedindo socorro mas poucos têm ouvido os seus gemidos. Isto porque a cidade vem crescendo muito nos últimos anos e a política de resíduos sólidos parece travada, desde que o necessário projeto de um aterro sanitário morreu. O consórcio entre os 3 municípios – Saquarema, Araruama e Silva Jardim – assinado há anos para a construção de um só aterro sanitário para os três acabou engavetado num dos escaninhos do poder público.
O fato é que o lixão do Rio da Areia foi até melhorado, desde que pegou fogo, mas a atividade sem controle continua a céu aberto. Portanto não se pode dizer que existe lá um aterro controlado, que seria meio passo para se chegar a um aterro sanitário definitivo. Para se ter um aterro controlado – diferente de um aterro sanitário – é preciso ter um programa eficiente de coleta seletiva de lixo, em parceria com a sociedade civil, através de suas associações ou cooperativas, o que não acontece em Saquarema. As raras experiências de reciclagem de lixo no município são pontuais e não resolvem o problema maior.
SOLUÇÃO LOCAL
Além disso, a coleta seletiva tem duas faces: a conscientização dos moradores que adotam a coleta seletiva, feita por caminhões próprios para esta função, e o trabalho em parceria com os catadores que recebem os caminhões para fazer a triagem do lixo que será efetivamente separado e vendido por eles, através de suas associações ou cooperativas. Na Região dos Lagos a maioria dos municípios deposita seus resíduos sólidos no Aterro Dois Arcos, em São Pedro da Aldeia, muito longe de Saquarema, o que aumenta o preço devido às despesas com o combustível para o transporte.
A solução ambientalmente correta seria a que foi apresentada há anos, com o consórcio que desapareceu por encanto… E tudo devido a uma polêmica entre os vereadores da cidade que não queriam que o tal aterro sanitário ficasse perto de suas propriedades. O local escolhido na época foi Bicuíba. Então o lixão do Rio da Areia continuou ficando onde estava, com o mesmo prejuízo ambiental.
Recentemente, o Programa Balanço Geral, da TV Record, fez uma reportagem revelando as mazelas do lixão do Rio da Areia. Com imagens impactantes de urubus sobrevoando a área e catadores no lixo sem proteção nenhuma – luvas, botas, máscaras – a reportagem inclui depoimentos de um comerciante local, Miguel Cordeiro, de um advogado, Ronan Gomes, e do promotor Eduardo Fiorito, que falou de uma ação civil pública ajuizada contra a Prefeitura, para solucionar o dano ambiental que o lixão a céu aberto provoca na cidade, inclusive com o chorume infiltrando no subsolo, contaminando a área de Mata Atlântica.
ESPERANDO ROYALTIES
A destacar também a ausência de balança para pesar os caminhões que depositam os resíduos sólidos no Rio da Areia. Desde 2014, os lixões já deveriam ter sido extintos em todo o país, mas o próprio governo federal reconhece que a maioria dos municípios não têm recursos para acabar com esse problema. Não é o caso de Saquarema, um município que recebe royalties do petróleo para serem aplicados exatamente em obras estruturantes como essa. Segundo o MP-RJ, o município terá que desativar o lixão a céu aberto para salvaguardar o meio ambiente.