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Filhos do poder levantam a poeira com barraco eletrônico

O guru dos bolsonaristas Olavo de Carvalho (Foto: Facebook)

Enquanto a população brasileira se debate no enfrentamento de sérios problemas reais, como a elevada taxa de desemprego que não diminui, o dólar que chegou à casa dos R$ 4,00, as projeções do PIB desabando, prenunciando uma lastimável falta de perspectiva do país, a família presidencial bolsonarista gasta seu tempo e torra a nossa paciência postando críticas a supostos inimigos do pai presidente, mesmo quando estão dentro do próprio governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão. Sinceramente, há problemas muito maiores no país do que as eventuais divergências de opinião entre o presidente e seu vice. As trapalhadas dos filhos do presidente pela internet até poderiam ser vistas como cômicas – que de fato são – se o presidente não fosse tão subordinado ao seu círculo familiar. É por isso que um assunto tão menor transforma-se num grande problema da política nacional.

ESTREITO

O governo do capitão reformado prossegue num clima de barraco eletrônico, com grupos internos se digladiando. A primeira ideia que surge dessas brigas seria a ausência de uma atuante oposição que conseguisse preencher ampla e seriamente seu espaço. Na falta dessa oposição, o que se depreende é que o governo, não tendo com quem brigar, resolve brigar consigo mesmo. Não importa o que venha a acontecer com Mourão. Um governo tão estreito como esse, pautado no bolsonarismo, certamente estimulará novas tensões internas, sobretudo pela ausência de uma provocante oposição.

O último surto dos filhotes do poder mostra, mais uma vez, a situação bizarra em que o Brasil se encontra. Um mero vereador do município do Rio de Janeiro dando ordens de bom comportamento ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que foi eleito pelo povo, tanto quanto o presidente Jair Bolsonaro, pai dos filhotes, e tem suas próprias ideias. Até porque não há razão para que não possa tê-las, pois na democracia a diversidade é uma rotina, ao contrário do que numa ditadura. Que os filhotes do poder não usem, agora, o barraco eletrônico para instigar que Mourão bata continência, como um soldado, para o capitão reformado. Mais do que o mau desempenho como parlamentares, os filhotes do poder criam dificuldades ao país, atacando integrantes do governo do pai. Uma frente de constrangimento vem do autodenominado filósofo Olavo de Carvalho, de linha “conservadora endireitada”, a quem os filhotes do poder e o próprio pai presidente prestam uma patética vassalagem.

IRREVERSÍVEL

A confiança na capacidade do governo Bolsonaro está derretendo entre os agentes econômicos e o mercado financeiro. Sua popularidade está em rápida e acentuada queda em todas as pesquisas até agora realizadas. Isto, na visão dos analistas, preocupa muito porque pode tornar remota a possibilidade de aprovação das necessárias reformas econômicas. O país está mergulhado numa enorme crise, em grande parte herdada da última administração, mas o ex-presidente Temer tinha reduzido a dimensão do problema e deixado uma série de boas propostas para serem assumidas pelo novo governo. Bastaria ao capitão reformado aproveitar aquele momento de grande euforia com a eleição de um “salvador da pátria” para adotar medidas que ajudassem a tirar o país dessa longa estagnação, já cheirando a algo irreversível.

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