A discussão sobre os diálogos entre o então juiz Sérgio Moro e o chefe dos procuradores de Curitiba, Delton Dallagnol, continua onde sempre esteve desde o início: no campo político. Sérgio Moro saiu praticamente ileso das audiências no Senado e na Câmara onde o que se viu, mais uma vez, foi um acalorado bate-boca entre parlamentares do lulopetismo, ou próximos ao PT e ao escândalo da Petrobras, e aqueles ligados a partidos tradicionais do centro e do centro-direita que estão ao lado de Moro.
Milhares de pessoas foram às ruas, em 88 cidades de 26 estados e do Distrito Federal, na defesa do ministro da Justiça, Sérgio Moro, da Lava-Jato, de pautas do governo Bolsonaro, como a reforma da Previdência, o pacote anticrime e contra as escaramuças perpetradas pela esquerda através do Movimento Lula-Livre. O ato contou com a adesão do governo Bolsonaro por intermédio do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e pelo filho caçula do presidente da República, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disparou um furo discurso em defesa de Moro e severas críticas ao Congresso Nacional.
LUGAR ERRADO
Convocados por dezenas de “movimentos de direita”, através da internet, nos atos de agora voltaram a se destacar os dois grupos mais influentes nas mobilizações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua. Nos dias seguintes às manifestações com críticas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, integrantes desses dois poderes tentaram minimizar o alcance e a amplitude dos movimentos e reagiram à pressão que veio das ruas com incentivo do próprio presidente da Repúbllica, Jair Bolsonaro.
Deputados e senadores criticaram a pressão sobre o Congresso e, principalmente, o fato de Bolsonaro ter publicado em sujas redes sociais que “o povo está acima das instituições”. Líder do MBD no Senado, Eduardo Braga (AM) reagiu taxativo: “O nosso presidente, lamentavelmente, não tem, como uma de suas grandes virtudes, a questão das declarações.” Mais uma vez Bolsonaro deu demonstração de que não entende nada do que é uma República, ao afirmar, sobre as manifestações de apoio a Moro, que o povo está “acima das instituições”. É exatamente ondo o povo não pode estar! É esse tipo de visão que, geralmente, desemboca em regimes populistas autoritários, cujo fim é sempre trágico para o próprio povo.
REVANCHISMO
Em depoimentos na Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre as mensagens divulgadas pelo site The Intercept – Brasil, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, reclamou do revanchismo e voltou a negar irregularidades em seu trabalho como juiz da Lava-Jato. Também ironizou o fato da oposição citar muito a condenação do ex-presidente Lula (PT), mas não as de outros alvos, como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, ambos do MDB. O fato é que houve espaço e tempo para cada qual atacar ou defender a Lava-Jato. Embora os que atacaram dissessem estar mirando na conduto do juiz, o que se vê é um foto sem trégua contra a Lava-Jato, uma operação que prendeu políticos e empresários como Lula e Marcelo Odebrecht.