Era uma noite de agosto de 1966 na beira da lagoa, defronte a minha casa, centenária, na esquina da Rua Barão de Saquarema com a Francisco Vignoli. Eu tinha 26 anos, tarrafa nas mãos para pescar camarão. De repente, um fusquinha despedaçado, deslocando-se lentamente, anunciava, descendo a ponte: “Para prefeito de Saquarema, Jurandir Melo, a renovação em pessoa”.
Como naquela noite a lagoa não estava pra peixe, pouco tempo permaneci ali, retornando logo em seguida casa adentro, para indagar do meu pai quem era esse tal de Jurandir Melo, candidato a prefeito? Meu pai, Casimiro Vignoli, respondeu: “é um rapaz de Sampaio Corrêa”.
“E será que vai dar pra tirar do poder o eterno grupo de Gentil Mendonça?”, indaguei. E meu pai prenunciou: “Fácil não é não!”, exclamou! E não deu outra; aquele desconhecido, marinheiro de primeira viagem, como se autodefinia, arrebentou a boca do balão, ou melhor, a boca da urna!
Seguiram-se muitas comemorações até a posse do novo prefeito, representante de uma nova geração política em Saquarema, dando início à escolha dos integrantes do novo governo, com nova mentalidade, novos princípios, novos hábitos, sem exclusão, sem revanchismo contra aqueles que faziam parte do grupo político adversário que acabava de ser derrotado, após tantos anos no poder.
Jurandir começou estremecendo a todos no dia da posse, dando um recado inesquecível, ao citar em seu discurso o grande político mineiro Benedito Valadares: “Estou tranquilo diante deste grande desafio, pois aprendi que a política é a arte do possível”. Jurandir começou então a botar em prática uma promessa de campanha: “O que mais vou fazer é construir escolas”.
E, em seguida, dispensou o apoio do casal Casimiro e Nair Vignoli, meus pais, que implantavam então a CNEG (Campanha Nacional de Educandários Gratuitos), hoje CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), num município que só oferecia à população o curso primário. Com a CNEG, a população de Saquarema passou a receber gratuitamente o então curso ginasial e, 4 anos depois, o Curso Normal, formando professores para as escolas que surgiam…
Numa época em que ainda não havia reeleição, Jurandir elegeu-se prefeito para 3 mandatos, intercalados, e elegeu 2 prefeitos por ele indicados, totalizando 20 anos no comando do município, num clima de progresso, entendimento e bom senso. O seu falecimento e o concorrido velório na Câmara Municipal, com a presença de muitos políticos e ex-prefeitos, além do povo em geral, foram a prova inconteste da liderança de Jurandir e do seu relevante papel político, no município que governou com verdadeira maestria.
(S.V.)