Quando conheci Maria Ribeiro Prestes, ela estava ao lado do marido, o líder Luiz Carlos Prestes, na época presidente de honra do PDT (Partido Democrático Trabalhista), fundado por Leonel Brizola. Era um evento numa famosa casa de shows no Rio de Janeiro. Maria estava com um vestido simples, colorido, e uma sandália. E como não reparar naquela senhora bela, cabelos grisalhos, baton vermelho, atenciosa com toda gente que se aproximava para cumprimentá-la e, em seguida, cumprimentar o ex-senador Luiz Carlos Prestes, o Velho, como os antigos companheiros do PCB (Partido Comunista Brasileiro), o Partidão, o chamavam.
Aquela recepção nada tinha a ver com os almoços que os membros do Partidão promoviam com objetivo de angariar fundos, onde o casal Maria e Prestes comparecia, sempre cercado de companheiros(as), como naquela feijoada onde fui a convite do casal Taiguara e Eliane Potiguara, em Santa Tereza, no Rio. Foi no bojo da campanha presidencial “Brizola, presidente” que nos aproximamos. Eu era então presidente do Movimento de Mulheres do PDT-RJ, que reunia lideranças partidárias de todo o Rio de Janeiro, além de mulheres notáveis como a advogada e escritora Maria Werneck, autora do livro “Sala 4”, onde descreveu o período de sua prisão durante a ditadura de Getúlio Vargas.
Do PCB ao PDT
Maria Werneck ficou presa na mesma cela que a psicanalista Nise da Silveira, que fundou mais tarde o Museu do Inconsciente, a também escritora Beatriz Ryff, que trouxe do exílio os originais de um livro sobre a Iugoslávia, Alaíde Pereira Nunes e Olga Benário, então esposa do líder comunista e também preso Luiz Carlos Prestes. Olga estava grávida na “Sala 4”, de onde saiu para ser deportada para a Alemanha, onde foi morta numa câmara de gás, após ter dado à luz a filha Anita Prestes.
Militante ativa do antigo PCB, a então jovem pernambucana Maria conheceu Prestes quando foi para São Paulo com a missão de fazer sua segurança, numa casa humilde. Maria tinha dois filhos e, com Prestes teve mais sete. Com uma militância intensa, apesar da vida clandestina, foi para o exílio na então União Soviética e viveu em Moscou durante vários anos, até retornar ao Brasil, na anistia. No PDT, Maria frequentava as reuniões semanais do Movimento de Mulheres, participou do I Congresso Nacional de Mulheres do PDT, em Brasília, e deu muitas entrevistas, inclusive para o jornal Fio da História, do PDT.
Do PCB ao PC do B
Em meados dos anos 90, viemos juntas para Saquarema. Aqui passamos grandes temporadas de verão em minha casa, em Barra Nova, até Maria adquirir um terreno e construir a sua própria casa. Posteriormente, se transferiu para a Manitiba, onde vive, quando não está no Rio ou viajando devido a compromissos políticos e culturais. “Cidadã Saquaremense”, Maria acaba de completar 90 anos, acolhida cada vez mais por seus filhos, netos e bisnetos, numa família extensa que inclui parentes, amigos e companheiros.
Autora do livro “Meu Companheiro – 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, lançado inicialmente no Rio de Janeiro, em várias partes do Brasil e também na Câmara Municipal de Saquarema, Maria Prestes comemorou seu aniversário de 90 anos, ao lado de personalidades como a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), entre muitos amigos e familiares. Parabéns, guerreira! Vida longa, Maria!