Ás vésperas do Carnaval, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional do Palácio do Planalto, deflagrou o movimento inicial para a mais recente rodada de confrontos entre o Executivo e o Legislativo. Ao dizer que o presidente Jair Bolsonaro não poderia ceder a chantagens de deputados e senadores, e incentivá-lo a “convocar o povo às ruas”, numa frase que incluía até um palavrão (“foda-se”), o ministro do GSI deu nova roupagem aos atos de apoio ao governo, mas quase que, simultaneamente, também escancarou uma crise entre seus pares das Forças Armadas. Captada por uma transmissão ao vivo na conta do Facebook do presidente, a declaração do Heleno incomodou militares e, segundo relatos, a atitude foi reprovada por parte da cúpula do Exército.
NADA CONSPIRATÓRIO
Jair Bolsonaro tem biografia conhecida, construída em 28 anos de mandatos legislativos exercidos como representante corporativo de militares e policiais, com um perfil de extrema direita que foi o afastando de boa parcela da sociedade. Esse clima contaminou o ambiente pré-manifestação atribuindo-o um caráter crítico aos poderes da República. Quando exterminou, reservadamente, apoio ao movimento, Bolsonaro provocou uma espécie de crise institucional que ainda assustava pelas manifestações convocadas por seus seguidores nas mídias.
Corrigindo o sentido original das manifestações para ampliá-las em direção a uma improvisada advertência popular aos mandatários do país, inclusive ele próprio, Bolsonaro, oficializa as manifestações e tira de seu apoio o caráter conspiratório inicialmente imaginado. Mesmo assim, nos últimos dias, tem procurado eximir-se de culpa, caso as manifestações retomem seu rumo inicialmente suposto de críticas aos que “não deixam o homem trabalhar”, no caso ele próprio. Isto não quer dizer que não haverá bonecos infláveis do presidente na Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, ou até mesmo faixas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros, além das instituições que dão limites ao Executivo, Legislativo, Judiciário e Imprensa independente.
BARRIGA DE ALUGUEL
Sem a certeza de que o APB (Aliança pelo Brasil), partido político idealizado pelo presidente Bolsonaro, vai sair do papel a tempo de disputar as eleições municipais – a data limite é 4 de abril – candidatos bolsonaristas têm hoje duas siglas dispostas a recebe-los, PRTB do vice-presidente Hamieton Mourão, e o PR, ligado à Igreja Universal. Outras legendas de afinidades ideológicas com Bolsonaro, já sinalizaram, falta de disposição para servir de “barriga de aluguel”, na gíria eleitoral, para candidatos próximos ao presidente. Bolsonaro já admitiu para aliados que o APB só ficará legalmente pronto para as eleições de 2022, quando tentará a reeleição. A ideia de Jair Bolsonaro é manter-se neutro no próximo pleito municipal, para evitar um eventual desgaste com derrotas em diversos municípios. A ideia é disputar eleições apenas em 2022. Para ser oficializado, o APB precisa recolher 491.967 assinaturas exigidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, então, dar início ao processo de oficialização da sigla partidária.