Saquarema está em isolamento social desde meados de março, porém a pandemia do
Covid-19 não chegou no município onde não há nenhum caso registrado até o início de abril
Com uma linha sempre crescente em todo o país e em vários municípios do estado do Rio de Janeiro, o município de Saquarema ficou muito apreensivo e a Prefeitura tomou diversas iniciativas, começando no dia 13 de março, quando foi baixado o primeiro decreto proibindo aglomeração. A partir daí, o comércio ficou fechado e as ruas vazias, com exceções de farmácias, supermercados, postos de gasolina, lojas de ração, de materiais de construção e restaurantes, mas estes apenas com serviço de delivery (entrega em casa), todos considerados essenciais.
O isolamento social que esvaziou as principais ruas, praças e avenidas, criaram também uma crise econômica que começou a ser discutida em grupos, como o do comércio, preocupado com a situação financeira, à beira de um caos econômico, no Brasil e no mundo! Mas o combate ao coronavírus não pode parar! Em entrevista ao jornal O Dia, o secretário de Saúde de Saquarema e vice-prefeito Dr. Pedro Ricardo falou sobre o Plano de Contingência Municipal, onde as medidas descritas foram baseadas nos Planos de Contingência Nacional e no Estadual. Segundo Pedro Ricardo, médico, cardiologista, o Plano de Contingência de Saquarema foi um dos primeiros a serem elaborados na região e provavelmente por isso ainda não há nenhum caso confirmado no município.
“Somos a única cidade da Região dos Lagos sem um caso confirmado. Já houve óbito em cidade vizinha. Nós, desde o início, seguimos os protocolos do governo estadual e do Ministério da Saúde. Começamos tomando medidas para evitar aglomerações, fechamos comércios, escolas e prédios públicos. Proibimos a frequência nas praças, praias e lagoas. Hoje, já existem barreiras sanitárias em todas as entradas da cidade e está sendo feita a sanitização das ruas de maior movimento no município”, disse o secretário.
ANTECIPAÇÃO E ISOLAMENTO
Outra iniciativa foi a reestruturação da rede de atenção hospitalar e o reforço do estoque dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), além de novas aquisições emergenciais. Profissionais de saúde foram treinados para o manejo adequado dos pacientes e detecção de casos suspeitos. Saquarema também recebeu mais uma ambulância da Secretaria Estadual da Saúde.
“A rápida escalada da doença em todo o mundo vem esgotando sistemas de saúde sólidos em todo o mundo”, diz o Dr. Pedro Ricardo, “então preferimos nos antecipar, pois no município com pouco mais de 87 mil habitantes, cerca de 15% da população é de idosos, o principal grupo de risco do coronavírus. Portanto, é muito importante que a população entenda a gravidade dessa doença e que não podemos sair de casa! Todos os dias tomamos medidas e colocamos em prática as ações para que o novo coronavírus chegue aqui de uma forma mais branda; porém, não conseguiremos fazer isso sozinhos. Toda a população deve colaborar não saindo de casa; só para as necessidades urgentes”.
Em longa entrevista na Rádio Serramar com a presença da prefeita Manoela Peres, do vice-prefeito e secretário municipal da Saúde Dr. Pedro Ricardo, e os médicos Dr. Carlos Eduardo (Dr. Kadu) e Ana Paula, responsável pela Vigilância Sanitária, maiores detalhes dos procedimentos da equipe foram esclarecidos. A prefeita, que também é da área da Saúde, pois é dentista, fez questão de destacar a importância do isolamento social no mundo todo e também aqui em Saquarema.
“Se hoje em saquarema não temos nenhum caso é por causa do isolamento social. Toda a nossa equipe está trabalhando muito para retardar a chegada do vírus. Muitas pessoas não entendem, mas a nossa obrigação e a nossa parte nós estamos fazendo. As pessoas têm que entender a necessidade e a importância do isolamento, além das outras iniciativas: os decretos, as reformas nos PU (Postos de Urgência em Saquarema, Jaconé e Sampaio Corrêa), mais os leitos no Hospital, mais respiradores e outras”, diz a prefeita.
O detalhamento das iniciativas são descritas pelo vice-prefeito, Dr. Pedro Ricardo. “Temos 12 leitos no hospital e vamos implementar mais 10 leitos no PU de Saquarema, com Unidade Intensiva. O PU só será utilizado caso a estrutura do hospital não seja suficiente. Para os casos intermediários e não tão graves a ponto de irem para o CTI, teremos 2 leitos de terapia intensiva caso o paciente precise. Estamos muito focados; preferimos pecar por excesso do que não termos os equipamentos”, explica o médico.
A DEMANDA DA HOSPITALIZAÇÃO
Muitas pessoas ficaram preocupadas quando se espalhou a notícia de que o PU de Saquarema seria um dos pontos de apoio para o combate ao coronavírus, achando que por ser no centro da cidade, em frente ao Fórum, poderia haver contaminação. Mas o Dr. Kadu, com grande experiência profissional responde: “Não há nenhum motivo para esta preocupação. Todos os profissionais estarão trabalhando com os EPI (equipamentos de Proteção Individual) e estarão protegidos. Não há nenhuma possibilidade de comprometimento de moradores próximos. Primeiro que o PU está longe pelo menos 50 metros de alguma residência. O Fórum também, sendo o prédio mais próximo, estará isolado. É proibida a visitação de parentes, porque o Covid é altamente contagioso. Saquarema terá disponível 26 leitos de enfermaria. Um destes será de hemodiálise, outro é pediátrico e outros divididos no hospital e no PU. Os leitos do PU só serão utilizados em caso do hospital não suprir a demanda de pacientes”.
Já Ana Paula Duarte fala a respeito dos idosos, o principal grupo de risco. Segundo a estatística de 2019, são cerca de 13 a 14 mil idosos em Saquarema. Destes, 20% serão sintomáticos, 15% precisarão de internação e 5% de UTI. Segundo a epidemiologista, “temos que nos preparar para esta pandemia, com mais leitos e atendimentos. O acesso deste paciente tem que ser numa localidade acessível. Precisamos frisar que temos os equipamentos necessários para receber os pacientes e os tratarmos”.
Neste caso, além de equipamentos, a quarentena é de suma importância para evitar que muitos pacientes fiquem doentes ao mesmo tempo, porque não haverá sistema de saúde com suporte para suprir a demanda. Segundo os entrevistados, Saquarema está tendo a possibilidade de ser espectadora do que acontece no resto do mundo e, sendo assim, teve tempo de traçar uma estratégia de segurança. Porém, quanto ao isolamento, a pressão foi grande por parte de alguns comerciantes que não se conformam de ver suas lojas fechadas, alguns com enormes prejuízos.
A esse tipo de questionamento a prefeita Manoela responde: “Entendo que atinge a vida de todo mundo, para as pessoas e para o comércio. Como estas pessoas vão ganhar a vida? Infelizmente é uma situação atípica. Preservar a vida e a saúde das pessoas é necessário!
Todos os locais com redução no número de contaminados são os que estão levando a sério o isolamento social! São situações em que a gente tem necessidade de se higienizar, se isolar. Temos que aprender que precisamos cuidar uns dos outros. Este é um momento de união, todo mundo precisa se ajudar”, considera Manoela.
O PLANO DE CONTINGÊNCIA
Já Ana Paula discorre sobre o Plano de Contingência de Saquarema: “Ele na verdade é um norteador das nossas ações. As pessoas que tem acesso à internet, podem ver o Plano Estadual e o Plano Nacional, nos quais nos baseamos. A cada momento que você passa num nível da pandemia, a cada nível, você vai se adequando à situação. Nós já temos os leitos. Algumas pessoas nos perguntam porque pacientes, moradores de Saquarema, estão indo para outros municípios. Eles estão indo porque possuem plano de saúde. São pacientes que possuem o privilégio de terem um plano de saúde. Os pacientes que ficam e que nos procuram são acompanhados por 14 dias; então nós ligamos, orientamos, cuidamos de forma diferenciada durante este momento crítico”.
Há muita reclamação também quanto aos veranistas que chegam, apesar das barreiras funcionando nas entradas da cidade. E Manoela diz: “Se o dono da casa se tem um comprovante de luz ou outros documentos da casa em Saquarema, ele tem o direito de entrar. Mas pedimos um cuidado maior com o isolamento. Antes, porém, o Ministério Público (MP) não havia permitido ainda as barreiras nas estradas, então muita gente chegou. Mas agora fizemos as barreiras físicas e já informamos aos não moradores da cidade sobre a proibição de entrada e saída, para evitar a contaminação”.
O locutor PJ pergunta se tiver sintomas de gripe, mas sem falta de ar, onde deve ir? E o Dr. Kadu responde: “Você não deve ir ao hospital, deve aguardar os 14 dias de quarentena em casa. Só deve ir ao PU ou hospital se apresentar uma piora dos sintomas, febre alta, cansaço e falta de ar. O sintoma principal é falta de ar. A orientação é essa, com sintomas leves fiquem em casa, cuidando-se como qualquer resfriado. Se piorar, com falta de ar e febre alta, aí sim procura a emergência mais próxima da sua casa.
E a máscara, continua o locutor? E Manoela responde: “O ministério retardou um pouco esta orientação. Agora, é mais seguro a utilização da máscara, pois após pesquisas, eles perceberam que ao utilizarem máscaras domésticas, reduz o contágio e também a contaminação, coibindo a transmissão. Mas sem esquecer do isolamento, que é o principal”. No início de abril começou a higienização das ruas. Segundo a prefeita, o serviço começou pela limpeza das praças, onde sempre há muita aglomeração.
Sobre a proteção dos profissionais da saúde, o Dr. Kadu responde: “Hoje nós temos tudo disponível, para todos os profissionais que precisam de proteção. Serão montados kits diários para estes profissionais. São kits de proteção, banheiros específicos, isolamentos diferentes para tratar estes pacientes e eles não irão lidar com outros profissionais da saúde e outros casos. Hoje o almoxarifado do hospital tem todos os EPI disponíveis. Lembrando o que a Manoela falou: nós não temos nenhum caso de Covid-19 em Saquarema! Mas podemos ter o primeiro caso em breve, ainda mais porque temos muitos idosos na cidade e outros ainda estão vindo pois têm casas na cidade. Portanto, temos que estar preparados, para o correto atendimento a cada paciente”.