Silênio Vignoli
Por mais que diga o contrário, é inevitável o envolvimento do presidente Bolsonaro, virtual candidato à reeleição em 2022, com as eleições municipais deste ano. É difícil um candidato presidencial não se aproveitar de um pleito municipal para tentar montar um palanque de prefeitos e vereadores que possam ajudá-lo na campanha por sua permanência no Planalto.
Mas nem tudo é tão simples quando se pensa. Para começar, qualquer apoio de Bolsonaro pode transformar a eleição municipal numa espécie de plebiscito sobre o presidente. Ou seja: a derrota do apoiado jogará estilhaços no candidato a presidente em 2022. É isso que explica a vacilação do presidente, por enquanto, no Rio, sua base eleitoral. O prefeito Marcelo Crivela, candidato do Republicanos à reeleição, já esteve bem próximo de ganhar o apoio de Bolsonaro. As denúncias do Ministério Público, no entanto, abalaram a relação.
EFEITO POPULISTA
Geralmente, candidato denunciado transforma-se em objeto radioativo. Não deixa de ser sintomático que o concorrente do PSL a prefeitura do Rio, deputado federal Luiz Lima, seja abanado com incenso por lideranças bolsonaristas.
Ao pulverizar apoio por todo o país, Bolsonaro promove uma avaliação da influência do auxílio emergencial, cujo efeito populista já provou e gostou, aumentando o risco do presidente mandar logo às favas a responsabilidade fiscal e acelerar a implantação do seu Renda Cidadã, de olho grande em 2022.
As confusões conceituais do governo Bolsonaro provocaram o reaparecimento do risco fiscal, com séria ameaça de descontrole das contas públicas, um temor que se explica pela alta dos juros no mercado futuro. Se a alta básica (Selic) está em 2% ao ano, um papel do governo, com vencimento em janeiro de 2023, é vendido a juros de 4% e de 8% para vencimento em dez anos.
Eis o ponto a que chegou o governo Bolsonaro. Perdeu a bandeira do combate à corrupção (com a saída do ex-ministro Moro) para se transformar em alvo do combate à corrupção. Sua sorte é que tem “muita gente lá de cima” ansiosa para acabar com a Lava-Jato.
Com os seguidos percalços da política econômica, o governo Bolsonaro está perdendo o apoio de parte da elite e da classe média que estava farta do intervencionismo do PT. E não sabe de onde vai tirar o dinheiro para financiar o populismo do Renda Cidadã.
PORTA DO BECO
Enfim, neste momento, entre os mais conceituados analistas políticos, predomina o ponto de vista segundo o qual se a sede de popularidade de Bolsonaro foi maior do que a do equilíbrio fiscal, o presidente pode até aumentar sua popularidade em certos setores do eleitorado, mas a crise decorrente disso será brutal. Bolsonaro pode estar na porta de um beco sem saída, após despontar como o grande e principal beneficiado do auxílio emergencial concedido a milhões de brasileiros.
O presidente precisa, agora, garantir suas bases mais fiéis e, digamos, mais sinceras, para obter ao menos os 30% que o levem a um segundo turno em 2022 e com a sorte de ter por adversário um candidato inviável da esquerda.