Ela é indígena, da etnia Potiguara, da Paraíba, de onde seus antepassados fugiram do genocídio promovido pelos fazendeiros produtores de algodão. Sua avó veio para o Rio de Janeiro trazendo suas filhas. Eliane nasceu no Morro da Providência, onde surgiu a primeira favela no Rio de janeiro, atrás do atual Palácio Duque de Caxias, antigo Ministério do Exército, no centro da cidade, morando em seguida numa vila de casas, na Rua General Pedra, herói da Guerra do Paraguai.
Autora de várias cartilhas e livros, como “A terra é a mãe do índio” (1989) e “Akajutibiro: Terra do Índio Potigura” (1994) e de livros infantis como “O coco que guardava a noite” (2004) e “O pássaro encantado” (2014), entre outros, além de seu carro-chefe “Metade Cara, Metade Máscara” (2004), já na terceira edição e traduzido em espanhol, Eliane tem um livro lançado, em 2015, com terrível atualidade: o seu livro “A cura da Terra”, que fala da doença ambiental na Terra, muitos anos antes da atual pandemia de COVID no planeta. Surpreende por tudo que estamos passando no presente!
DOENÇA AMBIENTAL
O livro foi publicado pela Editora do Brasil; é um livro didático, infanto-juvenil, ilustrado pelo premiado desenhista Soud. Eliane dedicou este livro a seus “netos, futuros bisnetos, filhos e a todas as crianças do nosso querido Brasil e do mundo”, como se estivesse prevendo o futuro tenebroso da Terra, com surtos de doenças graves e sucessivas nas últimas décadas: vaca louca, gripe suína, gripe aviária, dengue, zika, chicungunha, cólera e a atual pandemia de COVID.
“Essa pandemia tem a ver com o desequilíbrio da Terra”, diz com total espontaneidade a autora, mãe de 3 filhos: Moína, Tajira e Poti. O nome da menina, personagem do livro, é justamente o de sua primogênita, Moína, hoje mãe de seu primeiro neto, Luan e do segundo, Kauan. Do seu filho caçula, Poti, tem o Tainan e a mais novinha Nathália, de apenas 8 meses. Ao longo da história, Eliane conta a história que sua avó contava para ela: “Muitos e muitos anos atrás, a mentira, a maldade e os vícios invadiram uma aldeia de nossos antepassados, que ficava à beira do grande oceano azul” e como tudo mudou na vida das aldeias, das mulheres, dos homens, da alimentação, dos costumes, da fauna, da flora, dos rios…
ATIVISTA DA PAZ
Professora, escritora, empreendedora indígena brasileira, fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas, Eliane foi uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”. Formada em Letras e Educação, pela UFRJ, fez especialização em Educação Ambiental pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). Foi casada com o cantor e compositor Taiguara, de 1978 a 1985. Considerada uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988”, pelo Conselho de Mulheres do Brasil, participou da elaboração da Constituição Brasileira. Teve o apoio de instituições sociais como a Ashoka, Ibase e Programa de Combate ao Racismo, o mesmo que apoiou Nelson Mandela.
Eliane Potiguara foi a primeira mulher a ser indicada no Congresso dos Índios Norte-Americanos para ir às Nações Unidas, onde participou da construção da “Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, da ONU, em Genebra. Em 1992, participou do Comitê Inter-Tribal 500 Anos, na Conferência Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, a Rio 92, e em 1995 no Tribunal das História Não Contadas e Direitos Humanos das Mulheres, promovido pela ONU na China.
Eliane e participou de mais de 100 fóruns internacionais, entre eles a Conferência Mundial contra o Racismo na África do Sul, em 2001. No Brasil, foi conselheira da Fundação Palmares e integrou o “Projeto Mulher: 500 anos atrás dos panos”, que publicou o Dicionário Mulheres do Brasil. Há 4 anos mora em Jaconé, no terceiro distrito de Saquarema, com sua filha Tajira. Feliz por ter sido vacina contra o COVID, Eliane só quer agora viver em paz; uma paz conseguida com muito trabalho e sacrifício, mas também com muita sabedoria e poesia.