A primeira notícia sobre o Porto de Jaconé publicada no jornal O Saquá foi em 2011 e depois se sucederam mais de uma dezena anualmente, com excessão do ano de 2013. Durante todos esses anos, uma polêmica judicial se desenrolou no campo da mídia e da Justiça. De lá para cá, foram feitas audiências públicas, uma Ação Civil Pública e houve um debate ferrenho sobre fazer ou não fazer o Porto de Jaconé, como é mais conhecido o TPN, em Maricá.
Recentemente foi publicada uma decisão judicial autorizando a construção do porto em Maricá, atendendo um pedido do Estado do Rio de Janeiro, suspendendo a liminar que cassava a licença ambiental para construção do TPN. O principal argumento foca os impactos econômicos favoráveis que serão gerados pelo empreendimento, começando pelos investimentos previstos, no valor de R$ 5,2 bilhões, além da geração de mais de 10 mil empregos, numa estimativa de R$ 230 milhões anuais aos cofres de Maricá.
VOCAÇÃO ECOLÓGICA
Acontece que a localização do TPN numa área de grande interesse ambiental, científico e cultural – devido à presença dos famosos “beachrocks” encontrados nas areias da praia no costão de Ponta Negra, descritos pela primeira vez pelo célebre naturalista inglês Charles Darwin, quando passou pelo Brasil, em 1832, demonstra uma rara vocação ecoturística. No terreno, poderia ser construído uma parque com espécies da Mata Atlântica e da Restinga, um Museu dos Beachroks, também, entre outras iniciativas menos poluentes do que um porto, que produz inevitavelmente poluição, crescimento desordenado, crimes, prostituição e outras consequências nefastas.
Essa polêmica entre os empresários interessados no porto e os ambientalistas, os cientistas e os adeptos do ecoturismo, que visualizam um futuro próspero para a área, com uma economia limpa, belas pousadas, prática de esportes, incluindo o surfe, agora uma modalidade olímpica, tornou-se uma verdadeira briga entre o Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro. Chegou-se ao absurdo de concluir que os “beachrocks” não existem na área do empreendimento! Isto contraria todo o processo que comprovou não só a existência dos “beachrocks” como também registrou depoimentos dos pescadores e moradores locais contra o empreendimento portuário. Há até um documentário sobre isso: “Beachrocks em Chamas”.
ÁREA PACATA
Agora, os ambientalistas de Maricá já se manifestaram, através de um manifesto que está circulando nas redes sociais, com o seguinte teor: “Recebemos com preocupação e tristeza a notícia de que a Justiça proferiu decisão favorável à construção do Porto de Jaconé. Os argumentos apresentados pelo desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região ignoram o gigantesco impacto ambiental e social que o empreendimento causará na região, levando à descaracterização da localidade e à mudança em seu perfil, reconhecido como uma área pacata, com uma forte ligação de seus moradores com toda a natureza local.
Até quando projetos econômicos que beneficiam apenas uma pequena elite e deixam um lastro de destruição ambiental serão considerados prioridade pelo poder público sob o pretexto de beneficiar a sociedade como um todo? Ao longo dos últimos anos, temos visto promessas de desenvolvimento e progresso sustentável aos maricaenses, mas o modelo de cidade que entregam é, na verdade, uma agressão cotidiana aos ecossistemas do município. (…) Uma cidade verdadeiramente comprometida com a proteção dos ecossistemas locais é possível. Depende de vontade política e compromisso com o povo. Convocamos a todos que sonham com uma Maricá realmente sustentável a lutar conosco. Junte-se a nós.”