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Cultura de portas abertas

Na esquerda, familiares de Latuf, entre eles seu filho Otávio, o neto Gabriel e a nora Katia Devino, e na direita o poeta Chico Peres e o professor Rodolfo. Chico Peres foi um dos principais articuladores da publicação do livro de Latuf, Águas de Saquarema (Foto: Dulce Tupy)

Dulce Tupy

A Secretaria Municipal de Cultura está se abrindo lentamente, no ritmo da pandemia que ainda vivemos no município, no estado, no país e no mundo. Sendo assim, a Diretora de Cultura Telma Cavalcanti iniciou uma série de pequenas reuniões setorizadas sobre determinados temas, às quintas-feiras. O projeto experimental que se chama “Quintas Artísticas e Culturais” foi inaugurado com uma celebração ao poeta e professor Latuf Isaías Mucci, que viveu por muitos anos na cidade.

Autor do livro de poesia “Águas de Saquarema”, editado pela Tupy Comunicações em 2009, Latuf era professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), no campus de Niterói e em Rio das Ostras. Amigo do genial escritor, crítico de arte e dramaturgo Walmir Ayala, também falecido e que dá nome à Casa da Cultura de Saquarema, constituiu junto com mais dois artistas e amigos, o saudoso jornalista A. G. Marinho, carnavalesco, antiquário e cronista policial do jornal O Saquá, além do artista plástico Nelsinho Sorama, o grupo cultural mais dinâmico e culto já existente no município.
Juntos agitavam a cidade com suas ideias e uma prática libertária, alheia a todo tipo de preconceito. A casa de Walmir Ayala tinha as portas abertas para a comunidade e veranistas que quisessem entrar. Crítico de Arte consagrado, Walmir era gaúcho, viveu muitos anos no Rio de Janeiro, mas escolheu Saquarema para sua última morada, tendo sido enterrado no Cemitério atrás da igreja de Nossa Senhora de Nazareth. Porém seu túmulo não foi preservado, o que não impede que se faça uma homenagem póstuma a ele, uma pedra simbólica, uma referência qualquer, porque ele merece, apesar de já ter sido homenageado, imortalizado com o seu nome no maior equipamento cultural da cidade que é a Casa da Cultura.

APENAS UM POETA

Latuf foi um fiel amigo de Walmir e com ele compartilhou atos e fatos, conversas intermináveis, procissões religiosas e carnaval. Muito carnaval, com o bloco Gaiola das Loucas que vibrava nos dias de Momo, escandalizando a sociedade conservadora local. Sobre Latuf, Walmir escreveu: “Obedecendo à tradição sanguínea dos líricos da poesia árabe, Latuf delicia-se no puro enleio dos sabores etílicos do amor (…) Planta aos nossos olhos todas as sementes sinceras de uma poesia que tende a crescer, na medida contemporânea do coloquial, do humor, da irreverência, sob a tangência do lirismo, que marca a permanência histórica da poesia brasileira”, no prefácio do livro “Águas de Saquarema”.

O erudito Latuf Isaías Mucci, poeta e professor da UFF, em Niterói e Rio das Ostras, foi grande amigo do também escritor e poeta Walmir Ayala, que dá nome à Casa da Cultura de Saquarema (Foto: INternet)

Falecido em Belo Horizonte, em Minas Gerais, Latuf era vice-coordenador da Pós-Graduação em Ciência e Arte da UFF, onde também foi professor de Semiologia e Semiótica da Imagem e de Fundamentos da Literatura, Ética e Estética na Graduação, além de coordenador de Produção Cultural. Com mestrado em Teoria Literária e doutorado em Poética, na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pós-doutorado em Letras Clássicas e Vernáculas na USP (Universidade de São Paulo), o poeta inspirado se definia apenas como um poeta: “mineiro, barroco”.

Filho de um comerciante libanês e uma típica cabocla da Zona da Mata, nasceu na pequena cidade serrana de Jequeri e aos 10 anos foi internado em um seminário de padres em Mariana, onde obteve uma formação erudita, incluindo o latim, grego e hebraico. Mais tarde foi para Roma, estudar teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Vaticano, marco zero de sua andança por vários países, culminando com seu retorno ao Brasil e sua opção por Saquarema.

Capa do livro Águas de Saquarema, de Latuf, lançado em 2009

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