Dulce Tupy
Lamento informar o falecimento do artesão e joalheiro Catalán na Espanha, onde vivia com a arquiteta Lygia Tupy Caldas, sua esposa e companheira, há mais de 12 anos. Catalán nasceu em Santos, morou muitos anos em São Paulo, passou um breve período na Bahia e se formou na USP (Universidade de São Paulo). Catalán fez carreira como artesão e joalheiro, inspirado em temas humanos e ambientais. Formou joalheiros no Brasil e Esapnha. Expôs sua arte numa coletiva no MASP (Museu de Arte de São Paulo), na Avenida Paulista e vendeu joias em seu atelier, com também para seus clientes fixos e eventuais. Participou em feiras e lojas especializadas em artesanato e arte, deu palestras de joalheria e cursos de história das joalherias.
Nos últimos tempos no Brasil, vendia também no Museu da Escultura em São Paulo, no Jardim Europa. Em Espanha, vendeu em feiras e lojas de artesanato e arte, assim como de mineralogia em mercados de Economia Solidária. Participou de associações de artesãos e artistas em Navarra, onde presidiu sua principal associação. Nos últimos anos manteve seu atelier em Pamplona, Navarra, onde viveu por 9 anos, à frente do Taller Poranga e depois Y-Poranga e na província de Barcelona, em Palafolls, por quase 3 anos, com o sugestivo nome de Taller Tamoio Tupy. Artista e libertário, Catalán era basco “de toda vida”, pelo lado paterno e descendente também com orgulho de avô negro e avó judia polonesa, pelo lado materno. Deixou esposa, familiares e amigos inconsoláveis.
Amante da história, fonte de interesse político e intelectual, nunca quis seguir carreira acadêmica, nunca deixou de seguir a arqueologia. Estudava química, gemologia, física e biologia. De arte, acompanhava tudo, música, artes visuais, arquitetuta, filosofia. Adorava viajar! Deixou agora para minha irmã, Lyginha, um vácuo de informação sobre filmes, séries e documentários que seguia, como amante do Cinema de todas as épocas, de todo mundo. E um vácuo na culinária saborosa, simples e sofisticada, que fazia com amor e carinho, cotidianamente.
Catalán foi também um querido amigo, desde quando nos conhecemos aos 20 anos, no vestibular para entrar na USP, para onde passamos com muito gosto, os melhores da nossa geração. Ele fazia História e eu Literatura Português-Espanhol. Todas as tardes, um cafezinho no Campus nos unia com os colegas. No início dos anos 70, viajamos pra Bahia, no Expresso 2222, com Gil, Caetano, Gal e Bethânia na cabeça. Rodamos de carona de caminhão por todo o percurso Rio-Salvador, pela estrada BR-101. Ele se apaixonou por Salvador. Eu retornei a São Paulo, onde pouco tempo depois me casei e tive minha filha Lia, afilhada da minha irmã Lyginha.
Nossas vidas se cruzaram várias vezes, até que ele encontrasse em minha irmã a mulher ideal pela qual se apaixonou numa viagem ao sul de São Paulo, em Cananéia. Alí surgiu um romance épico que desembocou na Espanha. Catalán foi um dos meus amigos mais cultos, de uma inteligência viva e intrigante! O par ideal pra minha irmã também muito culta, com uma sensibilidade extrema. Nos 15 dias em que ficou internado, eu sofri aqui em Saquarema-RJ, Brasil, as dores de minha irmã na Espanha. Com Catalán, foi-se uma parte da minha juventude que ainda pulsava em minha alma. Foram-se os dias de frio no bairro Butantã onde eu morava, numa “república” estudantil. Foram-se as aventuras na estrada e – porque não dizer – o carnaval da Bahia.
Adeus, querido amigo e cunhado! Vou manter sua memória no melhor que você deixou pra minha irmã: a coragem de peitar de frente as angústias da vida, saber e conquistar o seu devido valor, viver a vida com grande intensidade! Tudo isso é a sua herança pra minha irmã Lyginha, que tanto amo e a quem você tanto amou, por quem daria tudo para vê-la feliz novamente! Adeus, Catalán.