Luiz Carlos Prestes Filho*
Vento sobre a pedreira ao lado de minha casa
Eu sei, este é o sinal, minha mãe está me procurando
Desde que vim morar neste lugar – faz vinte anos
O vento quando aparece é porque minha mãe está vasculhando
As rachaduras da encosta, os sulcos, as frestas
As pequenas cavidades de onde saem lagartixas, formigas
Onde brota água pura que fora retida pela chuva
Dias e dias – pequenos filetes
O vento da minha mãe vem de repente
Pode ser num dia de calor, sem nenhuma nuvem no céu
Sempre vem após uma tempestade
Devagarinho, vai passando e investigando as fissuras, as gretas
Minha mãe, primeiro, toca com suas mãos a vegetação baixa
Arrepia o verde do boldo, da erva de santa maria, da hortelã
Depois empreende um esforço danado
Sacode o tronco da carrapeteira e espalha flores do mandacaru
As mãos de minha mãe fazem as folhas secas das bromélias
Virarem trapezitas circenses sobre o chão acidentado da pedreira
- “Seu vento hoje veio violento!”
Foi o que disseram as folhas das bananeiras
Sim, ouvi elas conversando sobre o transitório
Sobre os remanescentes, sobre o magnetar
Mamãe diz que é normal as plantas conversarem
Mas tem que ter paciência para perceber essas falas
Agora o vento envergou a romãnzeira
Fez a arvorezinha descer até o nível do chão
Quando parou de soprar, um fruto escapou, se quebrou
Manchando as pedras por onde mamãe adora passear
Uma destas pedras ensanguentadas sou eu
O que será que minha mãe precisa? O que será que ela deseja me falar?
Sim, ela está me procurando – este é o seu sinal
Desde que vim morar neste lugar
*Luiz Carlos Prestes Filho, Rio de Janeiro, bairro do Catete, Morro Nova Cintra, Pedreira da Candelária – 28/02/2022