O desenvolvimento da Região dos Lagos está ligado à exploração do sal, que vem de tempos imemoriais e, posteriormente, à implantação e expansão da Estrada de Ferro Maricá. Há registros históricos da existência do sal desde a era do descobrimento, quando aqui aportaram os primeiros exploradores que chegaram à Terra do Pau-Brasil. E a ferrovia que ligava a Estação de Neves a Cabo Frio, transportando o sal produzido pelas salinas, entre outros produtos regionais, foi construída no final do século XIX e ampliada no início dos século XX.
Essa história tão importante para os municípios da Região dos Lagos está no livro “Do Sal à Ferrovia em Araruama”, do jornalista e historiador Célio Pimentel, editor do jornal Hora Certa. Lançado recentemente na Livraria Castro Alves, em Araruama, do livreiro Sérgio Ronaldo dos Santos Silva, este é o segundo livro do Célio Pimentel que lançou há alguns anos o seu primeiro livro “Estrada de Ferro Maricá, Desenvolvimento Urbano e Regional da Área Litorânea do Estado do Rio de Janeiro”.
Estações do trem e lanchas de sal
Célio é filho de ferroviário, nascido em Iguaba Grande, onde seu pai, Sotero Pimentel, trabalhava na Estação Ferroviária. Célio também é autor do curta-metragem “Reflexões de um Ferroviário”, que relata a vida de seu pai, que foi chefe de várias estações na Estrada de Ferro Maricá, inclusive Iguaba Grande, onde o filho nasceu. O livro foi um dos vencedores do Edital da Lei Aldir Blanc (LAB) do município de Araruama, de junho de 2020. A vida desta ferrovia que vai de 1853 até seu fim, em 1962, se conecta com a navegação à vapor na Lagoa de Araruama.
As embarcações à vela e, mais tarde, as chamadas “lanchas de sal”, navegavam transportando cal, sal, pesca e passageiros. Durante anos, conviveram com a ferrovia, um modal de transporte que começou a desaparecer a partir dos anos 60, na ditadura militar, que decretou o fim dos transportes ferroviários em praticamente todo o país. A indústria do sal, principal produto de exportação da Região dos Lagos para o Estado do Rio de Janeiro e outros estados, começou a decair com a substituição da salinas artesanais pela indústria do sal no Nordeste brasileiro.
O livro do Célio, além de resgatar a história do sal e da ferrovia Maricá, levanta também a questão da memória desse Patrimônio Material e Imaterial do Estado e a necessidade de um Museu do Sal, para preservar a cultura local. A história do desenvolvimento regional a partir da indústria do sal e do surgimento das estações ferroviárias é uma viagem interessante para pesquisadores e leitores em geral. Pela via do sal e dos trens, vai-se caminhando na história local, que tanto dignifica os municípios da Região dos Lagos.