Ele nasceu em 22 de janeiro de 1922, em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul, filho de um agricultor revolucionário, assassinado por soldados leais ao então presidente do Estado, Borges de Medeiros, durante a Revolução de 1923, em que o pai de Brizola era adepto de Assis Brasil, que usavam lenços vermelhos e eram chamados de maragatos e os demais lenços brancos, chamados de ximangos. O lenço vermelho no pescoço, típico dos maragatos, Brizola levou para a vida inteira.
Ainda criança, aprendeu a ler com a mãe, antes de entrar no ensino primário, estudou como bolsista e com 10 anos foi morar em um hotel, onde lavava pratos e carregava malas até a estação do trem. Ajudado por uma família evangélica, conclluiu o primário no Colégio da Igreja Metodista e aos 12 anos mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou como engraxate e ascensorista, até concluir o curso de técnico rural.
De engenheiro a governador
Trabalhou então numa refinaria de graxa, fez concurso para o Ministério da Agricultura e foi trabalhar como técnico em Passo Fundo. De volta à capital, trabalhou como jardineiro da Prefeitura, prestou serviço militar e formou-se engenheiro em 1949, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eleito deputado estadual pelo antigo PTB, em 1950, casou-se com Neusa Goulart com quem teve 3 filhos; tiveram como padrinho do casamento, realizado em São Borja, o então ex-presidente Getúlio Vargas.
Eleito deputado federal e em seguida prefeito de Porto Alegre, tornou-se governador do Rio Grande do Sul, fazendo um governo marcante, pelas lutas nacionalistas e pelo combate ao anafalbetismo, criando centenas de escolas. Em 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, lidera a chamada”Campanha da Legalidade” em todo o Brasil, que garante a posse de seu cunhado, o vice-presidente João Goulart, à presidência da República.
Da Guanabara ao exílio
Após o fim de seu mandato como governador, muda-se para o antigo antigo Estado da Guanabara, que acabara de perder a condição de capital do Brasil, de onde parte para o exílio, depois do Golpe Militar e Empresarial de 1964. Inicialmente no Uruguai, Brizola exilou-se também nos Estados Unidos e Portugal, onde reúniu os exilados para um retorno ao Brasil, depois da Anistia.
Voltou ao Brasil em 1979 e fundou o PDT (Partido Democrático Trabalhista), sendo eleito governador do Rio de Janeiro em 1982. Teve início, então, a construção dos CIEP (Centros de Integrados de Educação Pública), dando continuidade ao seu combate ao anafalbetismo e indo além. Os CIEP tinham além da educação, esporte, arte e cidadania, com a utilização dos prédios nos fins de semana pela comunidade, além de casa e abrigo de menores, sob a tutela de militares, em espaços construídos em cima das bibliotecas escolares. Em alguns CIEP, chegou a construiu piscinas.
Porém os CIEP começaram a ser destruídos por seus sucessor Moreira Franco, foram retormados por Brizola em seu segundo governo e, finalmente destruídos por seu demais sucessores. Hoje, a maioria dos políticos reconhecem que os CIEP teriam sido a solução educacional e cidadã para os brasileiros, caso tivessem permanecido no Rio e multiplicados em todo o país.
O legado dos CIEP
Projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a partir do programa educacional de Darcy Ribeiro, os CIEP foram aprovados mundialmente. Na época, Brizola e Darcy diziam: melhor construir CIEP agora do que presídios amanhã… era uma previsão histórica do futuro do país, hoje entregue às milicias, em várias partes do territória nacional. Brizola não foi eleito presidente e os que foram não tiveram a grandeza de resgatar o programa dos CIEP que teria resolvido a grave desigualdade social que aumenta a cada dia no país. Brizola faleceu em 2004, de infarto agudo do coração.
O homem que tanto amou o Brasil e tanto fez pelo Rio Grande do Sul – único estado do país que aboliu o anafalbetismo – e pelo Rio de Janeiro, incluindo a valorização da cultura popular e do turismo, construindo o Sambódromo, copiado em vários estados, para os desfiles das escolas de samba, Brizola é um político que não se esquece. O lema “Nenhuma criança sem escola” que o elegeu governador no Rio Grande do Sul, ainda hoje é válido, porque de lá para cá a pobreza e o anafalbetismo ainda crescem. Mas seu exemplo administrativo e os 500 CIEP que construiu resistem ao tempo e seu legado é reconhecido até por seus adversários, que o respeitam e, finalmente, compreendem a grandeza deste gaúcho de “faca na bota”, como se diz naquele estado que tantas lutas empreendeu pela construção do nosso país.