“Faz escuro, mas eu canto, / Porque a manhã vai chegar”, versos de 1965, do poeta THIAGO DE MELLO, mas tão atuais como se tivessem sido escritos HOJE! Aliás, a boa poesia é assim: não envelhece… Está sempre atual! Porque o poeta é LUZ na escuridão e THIAGO DE MELLO foi, é, e sempre será luminoso, resplandecente, como sua extraordinária poesia…
Nascido em Barreirinhas, em 1926, no interior do Amazonas, AMADEU THIAGO DE MELLO foi traduzido em mais de 30 idiomas e com 70 anos de produção literária, sempre foi uma voz contra a ditadura militar, as injustiças e a exploração ilegal da Amazônia. “Por decreto irrevogável fica / estabelecido / o reinado permanente da justiça e da claridade, / e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.” (Artigo VII dos Estatutos do Homem – Ato Institucional Permanente – sua resposta poética ao Ato Institucional nº I, de 1964, assinada pela junta militar, autodenominada Comando Supremo da Revolução.)
O poema citado acima, “traduzido por Pablo Neruda, um dos grandes amigos de MELLO, tornou-se mundialmente conhecido como arma contra a ditadura”, segundo Bolívar Torres, em matéria publicada em “O Globo”, de 15.01.2022. Os “Estatutos do Homem”, com seus 14 artigos, é facho de luz contra a escuridão e a mais pura poesia: “Artigo IV: Fica decretado que o homem / não precisará nunca mais / duvidar do homem. / Que o homem confiará no homem / como a palmeira confia no vento, / como o vento confia no ar, / como o ar confia no campo azul do céu. / Parágrafo único: O homem confiará no homem / como um menino confia em outro menino. //… Art. XI: Fica decretado, por definição, / que o homem é um animal que ama / e que por isso é belo. / Muito mais belo que a estrela da manhã. //
THIAGO DE MELLO foi médico, editor, jornalista e diplomata. E inesquecível POETA. Aliás, em entrevista ele revelou: “Eu nasci poeta!” Morou no Chile, Argentina, Portugal, França e Alemanha. De volta do exílio na Europa em 1978, instalou-se em sua cidade natal e nunca mais deixou o Amazonas.” (Bolívar Torres). Aos 95 anos, na manhã de 14/01/2022, morreu em sua casa, de causas naturais, de acordo com a sua família.
Jorge Luís Borges escreveu: “Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros. O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação.” E Guimarães Rosa: “A gente morre é para provar que viveu. As pessoas não morrem, ficam encantadas…”
Assim, se THIAGO DE MELLO, vivo, já possuía grande encanto, agora, com sua ida para a eternidade, tornou-se dupla e irresistivelmente encantado, encantatório, encantador! …
“Esse momento fugaz merece o nome de VIDA.” (Thiago de Mello)