Há muitos anos acompanho as notícias sobre a Petrobrás. Filha e neta de gaúchos, na minha família Getúlio era presença constante nas conversas no almoço e jantar. Quando Getúlio morreu, meu pai era delegado de São Sebastião, hoje um dos maiores portos da Petrobrás, no litoral paulista. A notícia chegou pelo rádio e a pequena população local foi para as ruas. Mantive na memória a imagem do meu pai com funcionários da Delegacia colocando bancos atravessados nas ruas, para impedir tumulto, numa cidade que não tinha praticamente carros. Foi um tumulto silencioso em todo o Brasil, a multidão chorando a morte do pai da Pátria, como também era conhecido Getúlio Vargas.
Getúlio criou as maiores empresas que os sucessivos governos insistem em privatizar. Assim foi com a CSN, duramente conquistada por Getúlio durante a Segunda Guerra Mundial. Foi também com a Vale do Rio Doce, uma potência da mineração nacional e internacional que foi para as mãos da iniciativa privada. Com a Petrobrás, parece que o roteiro é o mesmo, achincalhar primeiro, devalorizar depois e, finalmente, privatizar!
DESMONTE DA PETROBRÁS
Recente um levantamento feito pelo Dieese e Federação Única dos Petroleiros (FUP), aponta que o governo Bolsonaro já privatizou 62 ativos da Petrobrás, incluindo subsidiárias estratégicas, como a BR Distribuidora, refinarias, campos de petróleo, terminais, gasodutos, termelétricas, usinas eólicas, entre outros. Entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2022, estes ativos foram vendidos por US$ 33,9 bilhões. Mas ainda há mais 34 ativos da empresa que estarão à venda.
Porém, segundo informações da AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), ao contrário do que diz a direção da Petrobrás, a venda de ativos não contribuiu para aumento de competição no mercado e redução de preços de combustíveis. Ao contrário, segundo estudos, gerou monopólio regional privado, a exemplo do que ocorreu na Bahia, que tem hoje a gasolina mais cara do Brasil, após a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para o fundo árabe Mubadala.
REFERÊNCIA HISTÓRICA
Vale então fazer uma reflexão sobre o assunto e comemorar, mesmo que silenciosamente, o aniversário de Getúlio Vargas, cujo memorial na Praia do Russel, no Rio de Janeiro, pode e dever ser visitado. Para isso vamos retomar partes do texto publicado no Boletim da AEPET: “Trabalhadores do Brail, os 140 anos de Getúlio Vargas”.
“Tivesse a Petrobrás sob a direção de pessoas verdadeiramente interessadas em nosso País, como se deveria esperar de uma empresa estatal, o dia 19 de abril seria, por mais uma vez, data de comemoração, da festa do natalício seu pai, seu criador contra a avassaladora oposição de interesses estrangeiros e dos seus lacaios brasileiros.
Narra o escritor José Augusto Ribeiro, autor de “A Era Vargas”, três volumes que relatam não apenas os 72 anos da existência do maior ou único estadista no governo brasileiro, como sua morte três meses após ser instalada a empresa que assumiu o controle de toda indústria do petróleo brasileiro: “os campos de petróleo, refinaria e navios da Frota Nacional de Petroleiros”. A Petrobrás foi a obra do nacional trabalhismo que melhor demonstrou a capacidade e o orgulho de ser brasileiro, um povo miscigenado, pacífico e operoso”.
E finaliza. “Comemorando os 140 anos do nascimento de Getúlio Dornelles Vargas, o gaúcho de São Borja que obteve a patente de sargento no 6º. Batalhão de Infantaria, todos nós, petroleiros, devemos nos precaver contra a ameaça que ronda a Petrobrás. Não mais de um interesse nacional estadunidense, mas do conjunto das forças do capital apátrida que invadiu o Brasil e vem destruindo nossas instituições e empresas brasileiras, que a Petrobrás, vitoriosa como empresa de petróleo, é sempre a referência.”