Uma CONCHA. Sim, uma grande, bela e misteriosa concha tem sido, no mundo dos objetos, minha companhia de vida.
Faz tempo, muito tempo, encontrei-a na areia da praia e nunca mais nos separamos. Ela está, sempre que possível, ao fácil alcance da mão, pois produz magia.
Era bem menina e adorava construir “castelos” na areia molhada da praia. E não apenas construía mas adornava-os com conchinhas, que davam encanto e beleza às minhas singelas “construções”. Mas de repente, sem aviso, vinha uma onda mais forte e punha tudo a perder… tudo era arrastado para o mar… E quando isso acontecia, vinha logo à minha lembrança, a “casa de palha”, na história dos “Três Porquinhos”, que logo ao primeiro vento forte, ela não resistia… como os meus “castelos” não resistiam às fortes ondas… E numa dessas vezes, triste e desolada, olhei para a faixa de areia ao longo da praia… E próxima, bem próxima a mim, avistei uma grande, bela e irresistível concha. Decididamente, encaminhei-me para ela, e com o coração batendo forte, apoderei-me dela. Naquele momento intuí que me apossara de algo belo, misterioso e que haveria de me acompanhar pela vida afora… E tem sido assim; não me enganara. Misteriosa, porque conhece os segredos do mar e traz com ela o seu murmúrio contínuo e a sensação da sua presença e do seu imenso poder. Aqui lembro de Quintana – sim, o saudoso e amado poeta: “O mistério faz parte da beleza”… Verdade!… Desde então trago minha concha comigo, para, nos momentos de fragilidade, tristeza e desolação com os infortúnios da vida, levá-la simplesmente ao ouvido… e, fortalecida com a presença do mar, reestruturar-me e… seguir em frente!…
Mas nada como adormecer ouvindo o mar… Vão embora as preocupações e os problemas… E na cadência dos seus murmúrios, deixo-me envolver pela atmosfera de beleza e encantamento… Imagino incontáveis estrelas pulsantes, cintilantes, no azul-marinho do céu… Beleza! Tudo é beleza e magia… E apurando ao máximo a audição, chego a perceber ao longe, muito longe, o canto encantado das sereias… e consigo vislumbrar, com muita nitidez, Netuno cavalgando em seus cavalos brancos sobre as ondas do mar…
Sorrindo, adormeço… com absoluta paz de espírito…
O Jornal de Saquarema