A Oficina Literária Ivan Proença (OLIP) fez 50 anos em abril. O aniversário dessa efeméride foi comemorado no salão de um Hostel, na rua Gago Coutinho, no Largo do Machado, no Catete, no Rio, e reuniu professores, alunos, ex-alunos, jornalistas, amigos, parentes e intelectuais. Foi lá que o casal de professores, Ivan Cavalcanti Proença e sua esposa Isis Proença, coordenadores da OLIP, recebeu as justas homenagens, não só pela longevidade mas pelo seu caráter de resistência cultural. Afinal, num país que pouco valoriza a cultura, a Oficina Literária Ivan Proença formou vários escritores e poetas, publicou livros e difundiu a cultura literária no país.
Durante uma dessas oficinas, o professor Proença trouxe a Saquarema um grupo de alunos que pesquisaram o Quilombo de Bacaxá, tendo visitado inclusive o pesquisador Herivelto Bravo Piheiro, autor do livro Raízes de Minha Terra (Tupy Comunicações, Coleção Memória da Cidade, Volume 2, 2008, Saquarema-RJ). Em sua casa, no Centro de Saquarema, Herivelto conversou com os alunos do professor Proença que é assim: multiplicador!
ANOS DE CHUMBO
Oriundo de uma família de oficiais das Forças Armadas, Proença estudou no Colégio Militar desde 10 anos, ingressando posteriormente na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no Sul Fluminense. No dia 1º de abril de 1964, o jovem militar, capitão do exército em vias de ser promovio a major, comandou a tropa que impediu a invasão de um grupo de milicianos armados com metralhadoras, revólveres e granadas de gás lacrimogênio, à Escola Nacional de Direito, na Praça da República, no Rio, onde os acadêmicos faziam uma manisfestação contra o golpe.
Expulsando os paramilitares que fugiram, Ivan evitou então um massacre e, em seguida, dispersou os estudantes, muitos inclusive passando muito mal com as bombas jogadas no interior da faculdade. Ao retornar ao Ministério da Guerra, foi preso imediatamente e levado para a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói e depois para o Forte Imbuy, onde ficou solitário por quase 80 dias.
Afastado do Exército, passou a ser seguido pelo DOPS, o famigerado Departamento de Ordem Política e Social, nos tempos da ditadura. Incorporado à vida civil, fez vestibular para Letras na antiga Universidade do Estado da Guanabara (UEG), hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde passou em primeiro lugar, vindo a completar, no período da Anistia, o mestrado e o doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
PRÊMIO ESSO
Professor universitário até seus 85 anos, sendo 40 anos nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), em Botafogo, no Rio, publicou 14 livros de Literatura e Cultura Brasileira, sendo um de jazz, onde analisa a música popular americana, caribenha e brasileira que têm as mesmas raízes. Vencedor do Prêmio Especial Esso de Literatura, tem vários livros que estão sendo reeditados, como os célebres Ideologia do Cordel e Futebol e Palavra.
Na vida pública, foi Secretário Municipal de Cultura de Saquaremaj, por um breve período, no governo do Dr. João Teixeira e no governo Leonel Brizola foi Diretor de Cultura do Estado, Diretor de Projetos Especiais e do Museu da Imagem e do Som. Militante do Grupo Tortura Nunca Mais, é presidente do Conselho Deliberativo da ABI.
Na comemoração dos 50 anos da OLIP, confirmou que continua dando aulas, só que adaptadas aos novos tempos pós-pandemia, pela internet. Vez por outra, o casal
Ivan e Isis vem a Saquarema, onde pode ser encontrado no restaurante árabe, no Lake’s Shopping, agraciado pela simpatia do dono, Elias.
É aqui também que Ivan se encontra com velhos amigos, onde atualiza as notícias mais recentes sobre Saquarema, a cidade que adotou há mais de 40 anos, para veranear. É um saquaremense emérito! Um professor que bem mereceria maior reconhecimento de seus pares no município que escolheu para viver e onde geralmente escreve seus livros, no silêncio de sua casa, no Condomínio Lago do Paraíso. Para Ivan, aqui é o paraíso, embora poucos saibam disso.