Nasci em Campinas, São Paulo, numa fazenda do exército, sob a gestão do meu avô,o então Coronel Pedra. Primogênita de minha mãe, advogada, e meu pai delegado de polícia, fui levada em avião para o litoral com eles com pouco mais de um mês de idade. Então, quando abri os olhos no colo de minha mãe, provavelmente eu já vi o mar. Esse mar maravilhoso que temos o privilégio de ter nas costas de nosso país.
Com uma extensão imensa, o Brasil tem um llitoral fabuloso, conhecido e reconhecido nacional e internacionalmente. Para mim e minha família, o litoral de Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião eram apenas a nossa casa. E assim fui crescendo com intimidade com as águas salgadas do mar, até chegar no Rio de Janeiro, para onde nos mudamos nos anos 50 quando eu já tinha 6 anos.
São Sebastião, a cidade que mais lembro, era um paraíso! Ruas de terra, sem carros, com as crianças brincando em frente a suas casas, vez ou outra fazendo travessuras como aquela de tomar banho no chafariz da praça, gerando escândalo e queixa diretamente ao meu pai, na delegacia… Sorvete era a nossa meta, sempre. O delicoso picolé da padaria e a brincadeira melhor era subir em árvores, pricipalmente goiaba, para usufruir as delícias do quintal.
A viagem da mudança para o Rio de Janeiro foi de navio que atracou no então pequeno porto de São Sebastião. Lembro bem da escada com tapete vermelho e da chegada triunfal no porto do Rio onde meu tio Décio nos esperava com seu carro, pronto para pegar as malas e nos abraçar com carinho…
Vivi intensamente todas essas cenas da minha infância que no Rio de Janeiro, na Tijuca, nos afastou do mar. Então um grupo de mães conseguiu alugar um pequeno ônibus escolar para levar as crianças à praia, já que a Tijuca fica entra morros na zona norte do Rio. Assim, íamos em grupo para Copacabana, Urca, Praia Vermelha, Arpoador, Leblon e tantas outras onde ficávamos desde a manhã até meio dia e voltávamos famintos para nossas casas, porque o lanche que levávamos não dava conta de nossa vontade de comer, em idade de crescimento…
Assisti em plena adolescência uma ou duas enchentes no Rio que me deixaram atordoada com tanta desgraça, como o desabamento de um prédio em Laranjeiras que matou praticamente todos os moradores que estavam dormindo… entre eles o irmão do escritor Nelson Rodrigues que publicou uma série de matérias no jornal Diário de Notícias, que lia minha avó. Acompanhei passo a passo o resgate das vitimas. Sofri um grande impacto e me perguntava porque Deus permitia tanta desgraça?
Só muitos anos depois é que ouvi falar em mudanças climáticas, por volta da Rio-92 em que participei, como jornalista, assessorando uma equipe da União Internacional Indígena, no Aterro do Flamengo. Mas ainda não sabia quase nada sobre isso. Apenas a existência de mudanças que iriam mudar a face do mundo. Mas como? Não sabia. Não tinha respostas para os deslilzamentos nos morros da Tijuca, que eu vivera tão intensamente, anos antes da Conferência Mundial ECO-92 ou Rio-92, como ficou conhecida.
Enfim, alguns anos depois, vem morar em Saquarema, numa casa que começou a ser construída pela minha mãe para veraneio. Eu e meu marido Edimilson fizemos algumas adaptações e nos instalamos, fugindo de uma crise no Rio de Janeiro onde fui vítima de assaltos no trânsito e outros tipos de violência. Busquei melhores condições de vida numa cidade pequena, mas que logo depois iria também sofrer as dores do desenvolvimento.
Aqui as mudanças climáticas se anunciaram com uma grande ressaca que arrancou da areia vários quiosques, entre eles o que havia perto da minha casa. Que foi lambido literalmente por uma onda do mar. Depois, vivemos um ciclone tropical que veio do oceano, entrou na praia, em frente ao Centro de Desenvolvimento do Vôlei (CBV) e passou pela nossa casa, provocou muita desgraça no entorno da Lagoa das Marrecas, avançou pelo Boqueirão e Gravatá, atingiu o Centro de Saquarema e saiu do continente na altura da Barrinha no início de Itaúna.
Foi chocante! Famílias desabrigadas, crianças com fome, chorando de medo, tudo muito difícil e complicado como sempre ocorre nessas ocasiões. Em meu quintal, as árvores maiores tiveram seus galhos quebrados, mas nem uma telha saiu do lugar. Duas ou três árvores caíram dobradas no chão e tiveram que ser arrancadas definitivamente. O estrago não foi maior porque sempre mantivemos a mata de restinga na nossa frente da casa e na praia, que foi o que segurou o impacto do vento.
Hoje, vendo as cenas impressionantes ocorridas no desastre ambiental em São Sebastião e arredores, inclusove na paradisíaca Ilha Bela, onde fui muitas vezes na minha infância, com meus pais e mina irmã, tive a sensação de que as mudanças estão se acelerando dia a dia. Cada vez mais vivemos temperaturas conflitaltes, entre friio e calor, cada vez mais intensos. O clima já não é o mesmo de outrora. E precisamos nos ater a essas mudanças climáticas que nos atingem, observando o que nos dizem os ambientalistas, a ecologia e os especialistas que condenam esse desenvolvimdnto desenfreado que não respeita mais a condição humana. Assim caminhamos, diante desse fenômeno tão grave que são as mudanças do clima.
O Jornal de Saquarema