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Saquarema teve Festa de Iemanjá

A 10ª edição do evento contou com cortejo, entrega de presentes à Iemanjá na praia, apresentação de dança cigana e roda de samba

Realizada na Praia da Vila, a Festa de Iemanjá, promovida há 10 anos pela Afro-Saquá, já se tornou patrimônio imaterial de Saquarema. Apesar disso, a imagem de Iemanjá que ficava na calçada em frente ao quiosque na Praia da Vila, foi vandalizada, jogada no chão junto com os cacos de vidro de sua vitrine quebrada (foto: Dulce Tupy)

A Associação dos Cultos Afro-brasileiros de Saquarema, a Afro Saquá, realizou no domingo, dia 5 de fevereiro, a 10ª edição da Festa de Iemanjá. O festejo já tradicional no centro do município teve apoio da Prefeitura, por meio da Subsecretaria Municipal de Cultura. Em janeiro, outra homenagem a Iemanjá se realizou na Praia de Jaconé.
A celebração promovida pelo Afro Saquá, na Praia da Vila, reuniu fiéis das religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de veranistas que estavam na praia e curiosos em geral que lotaram as duas grandes tendas instaladas na areia, no intenso dia de sol.

Na areia, o barquinho com as oferendas a Iemanjá e os balaios com oferendas já estão prestes a serem despachados no mar (Foto: Dulce Tupy)

Com objetivo de valorizar a cultura afro-brasileira e combater a intolerância religiosa, o evento se iniciou com uma carreata desde Bacaxá até Saquarema, onde coneçou o cortejo a pé, ccom a imagem de Iemanjá e os presentes dedicados a essa entidade religiosa tão venerada em várias partes do Brasil. Na praia Rio Vermelho, em Salvador, foi comemorado o centenário da tradicional Festa de Iemanjá, quando foi inaugurada uma imagem da orixá negra, em sua versão atualizada para o candomblé.

Depois dos toques e louvações, o barquinho da Iemanjá será lançado no mar (Foto: SECOM/PMS)

Com louvações a Iemanjá e o toque dos tambores, o evento durou várias horas, quando se reuniram os presentes de Iemanjá: flores, perfumes, pentes e outros adereços. O ponto alto foi a entrega dos presentes na beira do mar, quando o barquinho de Iemanjá foi colocado numa prancha conduzida pelos guardavidas da Prefeitura Municipal que rumaram para o alto mar. As ondas da praia receberam o conteúdo dos cestos levados pelos fiéis e a maioria dos participantes lançaram flores no mar. Houve ainda apresentação de dança cigana, feita por Hannah Hadassah e uma roda de samba com o Grupo PraBatukar que encerrou a festividade.

Os ogans com seus atabaques sagrados que dão o ritmo da Festa de Iemanjá (Foto: Dulce Tupy)

Depois da Festa de Iemanjá,
um absurdo vandalismo

Após a realização da 10ª Festa de Iemanjá, que se realizou num clima de paz e harmonia, a imagem colocada há anos na Praia da Vila, próxima a um quiosque, foi vandalizada no dia seguinte: uma prova da intolerância religiosa local! A vitrine onde estava a imagem sobre um pequeno pedestal foi quebrada e os cacos de vidro ficaram no chão junto com a imagem profanada de Iemanjá. Segundo Sérgio, presidente da Afro-Saquá, que esteve no local logo cedo na manhã de segunda-feira, e que teve um depoimento gravado em vídeo postado no Fórum Cultural da Baixada Litorânea (Lagos /RJ) pelo maître de ballet Márico Nascimento, da SubSecretaria Municipal de Cultura de Saquarema, o local foi periciado pela polícia.

“Destruíram a imagem que tínhamos aqui da Mãe Iemanjá, que é Patrimônio Imaterial de Saquarema”, disse Sérgio. A imagem estava no chão junto com os pedaços de vidro na calçada da Praia da Vila, onde também se encontra um retrato de Iemanjá negra, da tradição do candomblé, que não foi tocada pelos vândalos.

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

O caso doi registrado na 124ª Delegacia como crime de intolerância religiosa, um crime que deve ser combatido com veemência num país multicultural como é o Brasil! No Rio de Janeiro, o culto a Iemanjá originou a famosa comemoração na passagem do ano nas areias das praias que hoje se espalhou por todo o país, na virada do dia 31 de dezembro.

Lembro de ter ido pela primeira vez à Praia de Copacabana com meus pais, de ônibus tipo lotação, quando era criança e ainda morava na Tijuca. Eu e minha irmã ficamos encantadas com as velas, flores e muitos presentes dedicados a Iemanjá, nas rodas de umbanda e candomblé na areia. Naquela época, ainda não havia a queima de fogos como se realiza hoje. No escuro, saltavam aos olhos somente as rodas com seus atabaques profundos, ditando o ritmo da umbanda e do candomblé. Mais tarde levei amigos para conhecerem esse ritual magnífico que ficou para sempre gravado nos meus olhos para sempre, assim como mais tarde se implantou nas cabeças e corações de milhões de brasileiros, apesar de todo e qualquer preconceito.

Dulce Tupy

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