Feiras de Livros são sempre uma boa notícia. E em Saquarema, pela segunda vez a FLIS (Feira de Livros de Saquarema) se realizou, em novembro, trazendo vários autores convidados além dos locais. Então teve lançamentos, palestras e debates sobre literatura, entre eles vale destacar a participação da extraordinária escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, eleita a intelectual do ano de 2023 e vencedora do Prêmio Juca Pato, e da indígena Eliane Potiguara, com seu estilo aberto, impregnado de poesia em prosa e prosa permeada de poesia. As duas mulheres notáveis deram um toque a mais na FLIS que também trouxe o escritor local Daniel Massa, jovem saquaremense com passagem pela Amazonia e Pedro Bandeira, o maior vendedor de llvros de literatura infato-juvenil no Brasil. A destacar também a presença (não fotografada, apenas anunciada) da bailarina Ana Botafogo.
Nas tendas da FlIS, instaladas no antigo Campo da Aviação, no Centro de Saquarema, estudantes, professores e público em geral lotaram todos os espaços. No palco principal se apresentaram vários escritores para debate com o grande público e os dias se encerravam com shows de bandas e músicos locais. Foi nesse palco privilegiado que se apreentou Conceição Evaristo, num dos momentos mais sublimes da FLIS. Com uma carreira brilhante, desde que veio de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, Conceição Evaristo hoje é uma das mais influentes escritoras do Brasil, nos gêneros poesia, romance, conto e ensaio.
LIVROS EXTRAORDINÁRIOS
Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Contos e Crônicas, por seu livro “Olhos D’Água”, Conceição Evaristo também ganhou o Prêmio de Literatura do Governo do Estado de Minas Gerais, de 2017, e o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, com a publicação de “Canção para ninar menino grande”, tendo sido a primeira mulher negra a levar essa premiação. Autora de “Poemas da Recordação e outros movimentos” e “Histótrias de leves enganos e parecenças”, entre outros livros, Conceição é Mestre em Literatura Brasileira (PUC-Rio) e Doutora em Literatura Comparada (UFF) e tem participado de eventos literários em diversos países, como no Salão do Livro em Paris, quando fez parte da delegação brasileira, além de trabalhos na Áustria, Estados Unidos, Moçambique, Porto Rico, Cuba, São Tomé e Príncipe, África do Sul e Senegal, entre outros.
Eliane Potiguara, professora, ativista, empreeendedora e escritora é a primeira indígena doutora honoris causa pela UFRJ e foi uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”. Fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas, nos anos 80, lançou o livro-cartilha “A Terra é mãe do índio” que ganhou o Prêmio Literário do Pen Clube da Inglaterra e do Fundo Livre de Expressão dos Estados Unidos. Durante uma década, participou da formulação da Declaração Universal dos Direitos Indígenas na ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra, na Suiça.onde também atuou no Programa de Combate ao Racismo, do Conselho Mundial de Igrejas.
ESCRITORES TALENTOSOS
Em 2014, Eliane recebeu das mãos da presidente Dilma Roussef a “Ordem do Mérito Cultural”, premiação do governo brasileiro, através do MINC (Ministério da Cultura). Autora dos livros “Metade Cara, Metade Máscara”, pela Global Editora, e reeditado recentemente pela Grumin Editora, lançou também o infantil “O coco que guardava a noite”, pela Mundo Mirim. Edm 2022. conquistou o título de doutora honoris causa da UFRJ. Incansável em sua luta pela defesa das mulheres, especialmente mulheres indígenas, Eliane Potiguara mora em Saquarema há alguns anos, o suficiente para ser homenageada pela Prefeitura Municipal, ao lado da também escritora Roseana Murray que assina a contracapa de seu livro mais recente: “O vento espalha minha voz originária” (Grumin Editora).
Na segunda FLIS, Eliane Potiguara participou de uma apresentação e debate no auditório, ao lado do jovem poeta Daniel Massa, autor de “não tem nome de quê” (BR75) e “de repente vale mesmo a pena é ir a pé” (Lluvia Livro) ambos em 2021. Em 2022, o saquaremense Daniel Massa lançou o livro de poemas “Fio D’Água” (7 Letras), onde expõe suas viagens à Amazônia. Então a FLIS foi de fato uma oportunidade de ouvir mestres que se dispuseram a participar de uma feira de livros ainda iniciante numa cidade pequena, no litoral do Rio de Janeiro. Mas foi grande, emocionante, com momentos de profundas reflexões que ficam para sempre.