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Porto Não! Uma só voz em Jaconé

Matheus da Colônia Z-24 (Saquarema) e demais pescadores do Norte Fluminense e Sul do Espirito Santo, banhado pelo rio Itabapoana (Fotos: Dulce Tupy)

A Pastoral da Ecologia Integral realizou um debate sobre o Porto de Jaconé, no Museu de Conhecimentos Gerais. O pequeno auditório do museu ficou pequeno para as mais de 70 pessoas que participaram com muito interresse, incluindo lideranças comunitárias, pescadores, moradores de Saquarema e Maricá, representantes do Poder Legislativo de Saquarema e do Estado do Rio de Janeiro, como o vereador Bebeto do Rio Seco e o deputado estadual Flávio Serafini.

A Pastoral da Ecologia Integral ressalta a interdependência entre todas as formas de vida e a importância de cuidar da criação como um dom de Deus. E acredita que a preservação do meio ambiente está intrinsecamente ligada á justiça social e à promoção da dignidade humana. Com essa missão estratégica, a Pastoral promoveu no Museu de Conhecimentos Gerais, em Jaconé, um importante debate sobre o Porto de Jaconé, que paira sobre os cidadãos de Saquarema e Maricá como uma ameaça constante nos últimos anos.

A abertura do debate foi um vídeo sobre o Porto Central que representa uma violência contra os cidadãos do litoral sul do Espírito Santo, na divisa com o Rio de Janeiro. A construção do Porto Central ameaça não só a vila dos pescadores como também o Santuário das Neves, construído no século XVII e que atrai uma romaria com mais de 50 mil pessoas, anualmente, e que é a segunda maior festividade religiosa do estado, perdendo apenas para a Festa da Penha, em homenagem à padroeira do Espírito Santo: Nossa Senhora da Penha.

PESCADORES EM DESTAQUE

O debate trouxe muitos depoimentos contrários á construção de portos a mais do que já existem, como é o caso do Porto Central no Espírito Santo e do Porto de Jaconé no Rio de Janeiro. Estes portos não vai trazer benefícios, como é alardeado pelos adeptos do desenvolvimento a qualquer custo. Ao contrário, serão a desgraça dos pescadores, que são sempre os mais prejudicados, e da população litorânea em geral, como ocorreu com o Porto do Açu, que hoje está subutilizado.

Assim como o Porto do Açu deslocou inúmeras pessoas de seus locais de origem, numa manobra sinistra contra os moradores locais, o Porto de Jaconé será fator de deslocamento populacional e vai atrair, como ocorre habitualmente nos portos, mais violência urbana, maltrato às mulheres e crianças, destruição ambiental, territorial e marítima, entre outros danos.

Carlos Freitas da REDI, da Bacia do Rio Itabapoana

O presidente da Colônia de Pescadores Z-24, Matheus de Souza, deu seu depoimento contrário ao Porto de Jaconé, além dos demais pescadores que vieram do Espírito Santo , com suas falas significativas sobre o que já vem ocorrendo no entorno do Porto Central. A bióloga Ellen, professora da Rede Estadual de Ensino, também se manifestou contra o Porto de Jaconé que vai violentar não só os pescadores mas todo o meio ambiente, fauna e flora.

DEGRADAÇÃO DA NATUREZA

Entre os vários depoimentos vale ressaltar a fala do vereador Bebeto do Rio Seco e do deputado estadual Flavio Serafini que se comprometeu em convocar uma audiência pública na ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) junto com a bancada de defensores do meio ambiente. “O Estado do Rio insiste em priorizar um modelo de desenvolvimento que degrada a natureza, desrespeita as comunidades locais e impacta negativamente as cidades que recebem empreendimentos como esses portos!”, sintetizou Serafini.

Sem falar do crime patrimonial, geológico, histórico e cultural, que a construção do Porto de Jaconé significa, pois estará em cima dos famosos “beachrocks”, arenitos de pedra descritos pioneiramente pelo grande naturalista inglês no século XIX, em 1832, quando esteve de passagem pelo Brasil e teve a oportunidade de conhecer a Região dos Lagos. Essas pedras que contam a formação dos continentes, por ocasião da abertura do Oceano Atlântico, quando da separação da África e América, deveriam ser preservados para as futuras gerações.

Mas o projeto de tombamento dos “beachrocks”, na Praia de Jaconé, ficou guardado numa gaveta da burocracia estatal do Rio de Janeiro que não se abriu como deveria até hoje, perdido em algum escaninho do governo do Estado.

O vereador Bebeto do Rio Seco e o deputado estadual Flávio Serafini, escutam o desabafo da moradora de Maricá. Em pé, o organizador do evento, Vinícius Mendes que faz parte da Pastoral da Ecologia Integral

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