No corrente mês de julho deste ano de 2024, o jornal O Saquá faz 24 anos! É um largo período de trabalho diário, totalmente voltado para o município que escolhi para viver os últimos 30, 40 anos de minha vida, junto com meu companheiro Edimilson Soares que me acompanha há muitos anos… Juntos vivemos momentos muito difíceis como na mudança para Saquarema, num momento político decisivo para o país e para o Rio de Janeiro. O então governador Leonel Brizola saía de cena, ao perder a eleição mais uma vez para presidente da República, arrastando inúmeros brizolistas, inclusive nós, e toda uma geração de brasileiros inspirados no nacionalismo, no trabalhismo, no socialismo e na modernidade que um Darcy Ribeiro significava, junto com o arquiteto Oscar Niemeyer, criadores dos CIEPs (Centros Integrados de Ensino Público) que foi uma experiência revolucionária na educação no país.
Na época, Brizola dizia: façam escolas, porque senão daqui a pouco vocês só farão presídios! Foi o que aconteceu de fato. Hoje, após 24 anos de resistência jornalística, verdadeiramente vivendo num bunker que é a minha casa, meu espaço de vida e trabalho, me sinto cansada de tanto trabalhar e viver da forma que vivo, com tão pouco e tantas dificuldades, algumas até visíveis, como o estado do meu carro enferrujado, algumas paredes de minha casa ruindo, meu quintal invadido de ratos, cobras e mosquitos, que vêm da rua, apesar de toda a minha luta para solucionar o meu dia a dia. Cuidando da saúde como posso, batalhando por consultas no sistema do SUS, frequentando o Postinho de Saúde da Família, em Barra Nova, a Clínica Dr. Seródio, em Bacaxá, e o Posto de Emergência de Jaconé, cujo nome é Nelson Nunes – grande amigo que foi também uma liderança no bairro. Com alguns poucos amigos e companheiros, verifico que estamos cheguando no fim de um ciclo: o do jornal O Saquá, que edito há tantos anos e que é chegada a hora de fechar as páginas e descansar.
Fechar o jornal O Saquá é para mim uma medida radical, na verdade um sofrimento, mas é a melhor solução para tentar seguir vivendo modestamente em Saquarema, uma cidade cercada de uma naturesa exuberante, onde me desdobro para sobreviver, com a certeza de que fiz o que era possível para ajudar o povo que vive aqui, sobrevivendo como eu e meu marido na luta do dia a dia. Por isso, antes do surgimento do jornal, vivíamos simplesmente como nossos vizinhos do bairro e é como vivemos até hoje. Porém, jornalismo é uma profissão que tem um glamour que faz com que as pessoas pensem que estamos no alto, quando de fato estamos ao lado desta população carente de informações e por isso nos dedicamos heroicamente, às vezes até sem condições, fornecendo aquilo que sabemos fazer verdadeiramente: informar! E informação é tudo, porque uma população desinformada é parte do drama cotidiano dos nossos dias, aqui ou em qualquer lugar do mundo!
Mas tem dias que a vida fica ruim mesmo, como passar mais de 24 horas sem luz em casa, com a geladeira derretendo completamente e sem poder trabalhar no meu laptop. Sem energia não posso ler, estudar, pesquisar, como costumo fazer. Para piorar ainda mais, perder tempo dentro de um banco, cerca de duas horas, como ocorreu com o meu marido no Banco Itaú, na Prefeitura de Saquarema, sem que fosse atendido embora tivesse uma senha garantindo o seu atendimento que não acontecia… Tive que protestar diante do funcionário que se apresentou como gerente. Meu marido, bastante doente, saiu do caixa aplaudido pelos presentes. E eu do lado de fora, que agonia! Mas com todos esses entreveros e descaso das autoridades, viver em Saquarema vale a pena, sempre valeu. Minha casa, que começou a ser construída em 1967, está cada vez mais linda, meu jardim bonito, minhas árvores suntuosas formando um pequeno bosque! Quanta felicidade… o que mais eu poderia querer?
O Jornal de Saquarema