Sim, foi amor à primeira vista! Era um dia chuvoso, mas que não tirou o brilho da descoberta! Já tinham me falado da beleza da casa do antropólogo Darcy Ribeiro, criador da Universidade de Brasília, ministro do presidente João Goulart, vice-governador de Leonel Brizola, criador do Sambódromo no Rio e senador, recém inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Situada num lote à beira mar na Praia de Cordeirinho, em Maricá, numa pequena casa em forma circular, como nas construções indígenas, tem uma piscina redonda dando pro mar e uma varanda interna, onde ele se deitava para ler ou cochilar.
É ali que Darcy conversava longamente com Oscar Niemeyer e amigos que iam visitá-lo naquele refúgio tropical, agora reinaugurado com o nome de Museu Casa Darcy Ribeiro, iniciativa genial da Prefeitura de Maricá. Para esta obra museológica magnífica, o cenógrafo e arquiteto Gringo Cardia bolou uma experiência imersiva e interativa, inteligente e sensível, divertida e profunda, que revela a densidade dramática de um dos maiores intelectuais da cultura brasileira. Foi nesta casa que ele escreveu o livro O Povo Brasileiro, sua obra definitiva, publicado em 1995.
Hoje, o museu-casa conta com duas salas de cinema, espaço para gravação de podecast, sala de karaokê, sala de vídeo, sala de espelhos infinitos e mais, incluindo música, rap e trap, poesia e slam. Em exposição está parte do acervo, como a pequena escrivaninha que usava e seu fardão da Academia Brasileira de Letras. O museu tem ainda um anexo cultural em homenagem a sua primeira esposa, a também arqueóloga Berta Gleizer. Foi neste espaço, primeiramente numa pequena sala, que foi feita a apresentação do Cacique Carlos Tucano, presidente do CEDIND, Conselho Estadual dos Direitos Indígenas do Rio de Janeiro, que veio de Duque de Caxias, onde mora na Baixada Fluminense, para Maricá.
EM BUSCA DAS RAÍZES
A apresentação, conduzida pela arqueóloga Bianca França, autora de um documentário sobre Berta Ribeiro, pela manhã, incluiu a participação da artista plástica Daiara Tucano, via internet, ficando para a tarde a apresentação de Dauá Puri, na varanda ao lado da cafeteria. Escritor, poeta e compositor, Dauá tem formação em comunicação, tendo atuado no antigo “Forró Forrado”, ao lado do cantor e compositor João do Vale, no Catete, no Rio, e nas rádios Bandeirantes, Guanabara e Manchete, entre outras. Com licenciatura em Educação do Campo e Ciências da Natureza na Universidade Federal de Viçosa-MG, tornou-se pesquisador de si mesmo e da história e língua da etnia Puri, povo originário da Região Sudeste Fluminense.
Autor do primeiro livro bilingue Puri/Português e da Coletânea Brasil Conto por Conto, escreveu inúmeras poesias e artigos sobre cultura indígena, tendo publicado inclusive em Havana, Cuba. Especialista em Cultura Indígena é militante do Movimento Indígena no Rio de Janeiro, onde fez parte da Aldeia Maracanã e vive hoje na Aldeia Vertical, no Rio Comprido. A sua palestra foi vibrante, apesar da chuva, motivando o público, tornando-o cúmplice de suas colocações, da sua música em guitarra de bambu, flauta e dançar circular. Um mestre, com certeza, na arte de seduzir e ensinar brincando.