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Visitas ilustres e históricas naminha casa em Saquarema

Editorial - Dulce Tupy

Eu e meu marido Edimilson Soares recebemos recentemente a visita de Adélio Silva e Dauá Puri, tio e sobrinho, responsáveis pelo funcionamento do antigo Forró Forrado, uma casa de show e dança de música brasileira, com forte acento na cultura nordestina. Eu morava em São Paulo, quando ouvi falar em Forró Forrado e adorei o nome, logo de cara. Em visita a minha família, no Rio, fiz questão de conhecer o Forró Forrado que funcionava na Rua do Catete, em frente ao canteiro de obras do metrô.

A gente entrava pisando nos tapumes, em táboas, correndo o risco de cair! Mas tudo era tão bom, uma aventura tão legítima, que o local enchia facilmente todas as semanas, com um público fiel e artistas consagrados, especialmente Joâo do Vale, grande atração, autor de músicas de sucesso, entre elas Carcará, lançada no Teatro Opinião, incialmente pela voz de Nara Leão e depois Maria Bethânia, no célebre musical Opinião. Mas não era impossível encontrar ali também um Chico Buarque e sua irmã Miucha, entre outros notáveis que não raro davam canjas, se apresentando em grande estilo: o do improviso!

Parte dessa história resgatamos bebendo longos goles de água, numa manhã calorenta na beira da praia em Barra Nova, onde vivo há mais de 35 anos. Adélio hoje tem casa em Jaconé e Dauá Puri acaba de regressar da Suiça onde se apresentou num show em homenagem a Amazônia. Criador do Museu Puri, Dauá vem fazendo um trabalho de resgate da língua Puri e reúne documentos e artefatos musicais dos Puri, etnia indígena que existia em parte do Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
São flautas de bambu ou pífanos, apitos, chocalhos, instrumentos de percussão e a famosa guitarra de taquara, que o próprio Dauá constrói, baseado em suas pesquisas da cultura Puri. Antes de se dedicar a essa atividade, Dauá trabalhava no Forró Forrado com seu tio Adélio e outros que recebiam sempre com um sorriso nos lábios todos que quisessem dançar no grande salão instalado no coração do Catete em obras…

Depois da minha ida pela primeira vez, nos anos 70, me tornei uma frequentadora assídua, não sem antes fazer uma reportagem de duas páginas para a revista Isto É, onde eu trabalhava na época. Hoje, passados tantos anos, nos recordamos com o coração batendo forte, momentos incríveis que vivenciamos naquele local, nascido da ousadia do empresário Adélio Silva, que até hoje se matém em atividade. Aos 88 anos, a serem completados em breve, Adélio é um símbolo de resistência cultural e a memória vida daquelas noites vibrantes, num espaço onde circulavam pessoas simples do bairro, mas também músicos como Taiguara, com sua bela esposa indígena Eliane, hoje Eliane Potiguara.

Aos poucos me tornei amiga de João do Vale. Fui eu que o indiquei ao empresário que estava organizando o Projeto Kalunga – o “Baixinho” – para ir na caravana de mais de 60 brasileiros para apresentações musicais em Angola. E fomos num avião da própria República Popular de Angola que veio ao Brasil para nos levar até Luanda, capital de Angola, onde ficamos hospedados até partirmos para outra cidade, Benguela, para fazer um show em Lobito.

Participaram do Projeto Kalunga: Chico Buarque, Dorival Caymmi, Clara Nunes, Martinho da Vila, João do Vale, Yvone Lara, Miucha, Elba Ramalho, Geraldinho Azevedo, Djavan, João Nogueira e outros que não me vêm na memória neste momento… Minha matéria jornalística foi publicada como um diário de bordo na revista Módulo, editada pelo célebre arquiteto Oscar Niemeyer que foi pessoalmente ao aeroporto Tom Jobim nos receber na volta, para evitar que fossemos presos pela ditadura recalcitrante em 1981.

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